Na Bíblia, a metáfora do casamento ou da família é, muitas vezes, empregada como símbolo do vínculo que existe entre os filhos de Israel e Deus. E a metáfora é freqüentemente assolada por tormentas, assim como acontece com a instituição do casamento e da vida em família. A Bíblia fala de tempos difíceis, de épocas em que o povo não permaneceu fiel à lei de Deus. É bem verdade que até parece haver poucos relatos de vitórias espirituais e morais. Talvez isso ocorra porque o êxito não precisa ser muito comentado. Ou talvez, sob outra perspectiva, porque os desafios que precedem o triunfo sobre o erro, exigem cuidadoso planejamento das decisões tomadas durante esse período.
As pessoas podem cometer erros terríveis. Às vezes, quando começamos a perceber, mesmo de leve, as tolices praticadas e os danos causados, o remorso é tão grande que, tal como Moisés, que fugiu para o exílio, também nós talvez queiramos fugir das possíveis conseqüências de nossos atos.
Moisés teve de vencer o medo. Precisou enfrentar a crença de que o mal tem mais poder que o bem. Quando, afinal, Moisés ouviu o chamado divino, debateu-se num profundo conflito interior. Muitos anos haviam passado desde a fuga do Egito para Midiã. E agora seu despertar moral o conduzira até o ponto extremo, de onde encetar o retorno. Desta vez desempenharia o papel crucial de liderar os filhos de Israel em seu livramento moral e espiritual.
“O Legislador hebreu, pesado de língua,” comenta a Sra. Eddy, “tinta pouca esperança de que o povo compreendesse aquilo que a ele seria revelado. Quando, induzido pela sabedoria, Moisés lançou sua vara ao chão e a viu transformar-se em cobra, fugiu dela; mas a sabedoria ordenou-lhe que voltasse e pegasse a cobra, e então o medo de Moisés desapareceu.” Ciência e Saúde, p. 321. Atendendo à orientação divina, Moisés enfrentou a circunstância temida. A Bíblia diz-nos que “estendeu ele a mão, pegou-lhe pela cauda, e ela se tornou em vara.” Êxodo 4:4.
Guiados por Deus, precisamos enfrentar aquilo que mais tememos, nossos próprios erros, por mais terríveis que pareçam. Voltando à metáfora do casamento e da família, uma das experiências que mais nos ensina a ser humildes, é a intimidade proveniente da vida em família. Esse fato, por si só, justificaria o uso, na Bíblia, dessa metáfora da convivência. As Escrituras enfatizam o vínculo singular que nos une a Deus.
Se você pegar a Bíblia e a ler do começo ao fim (obviamente, esse não é um projeto a ser realizado de uma só vez), você descobrirá alguns dos mais tristes exemplos das falhas humanas. Muitos relatos talvez pareçam tão conhecidos, que se fica a imaginar como é que as pessoas que os escreveram, podiam fazê-lo de forma tão atualizada! No entanto, apesar disso, existe a promessa do infalível amor de Deus a varar a tragédia das loucuras humanas: “Ora, tu te prostituíste com muitos amantes; mas ainda assim, torna para mim, diz o Senhor.” Jeremias 3:1.
E Isaías o disse de outra maneira: “Cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem.... Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados são como a escarlate, eles se tornarão brancos como a neve.” Isaías 1:16–18. Mais tarde, um escritor do Novo Testamento simplesmente disse: “Deus não nos chamou para a impureza, e, sim, em santificação.” Tess. 4:7.
É certo que os profetas, bem como Cristo Jesus, não foram condescendentes com o pecado. Tinham, porém, tamanha compreensão do poder salvador de Deus, que até mesmo o mais terrível dos pecados não conseguia obliterá-lo. E nós também obteremos essa compreensão, quer nos consideremos, ou a outros, dignos dela, quer não. A imagem do homem como o reflexo de Deus, reflexo puro e sem pecado, precisa superar até mesmo o que Shakespeare descreveu como “os dardos e setas de um ultrajante fado ... um mar de calamidades”.Hamlet (Tradução de F. C. de Almeida Cunha Medeiros e Oscar Mendes. São Paulo: Editora Abril Cultura, 1978), Ato III, Cena 1. E isso porque a realidade espiritual de nosso ser, como o filho ou filha de Deus, é a única circunstância real e duradoura!
Teremos de pagar por fazer o mal? Sim. Teremos de passar por um período de provas? É provável. Teremos de passar por uma perda dos atuais valores e responsabilidades? A experiência nos ensina que muitas vezes assim acontece. Mas a humilhação que talvez acompanhe o arrependimento, suaviza e salva nossa vida e nos reconforta, em contraste com o ódio contra nós mesmos, que resulta de continuarmos a agir mal.
E se nos encontramos na indesejável posição de termos sido injustiçados, podemos indagar-nos: “Se eu me recusar a aceitar a fantasia da autojustificação e do sentimento de superioridade quanto aos demais, que estão percorrendo de volta o caminho que leva à retidão e ao respeito próprio, será que o pecado não parecerá muito menos importante?”
Jesus enfrentou a impiedade alheia. Sua simples presença era muitas vezes uma censura, sem que ele pronunciasse uma só palavra que fosse. Mas essa compreensão genuína de que o homem é filho de Deus, elevava as pessoas até a compreensão de sua própria e verdadeira estatura moral e espiritual. Ele vencia a batalha contra o mal juntamente com os outros.
Todos nós precisamos abandonar as crenças que aprisionam o homem como criatura mortal, material e pecadora. Sob a obrigação dessa dívida, a oração de Jesus: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores,” coloca, de certa forma, todos nós no mesmo barco. A Ciência do Cristo oferece os meios para que todos nós sejamos salvos.
Que Deus nos conceda a graça de sermos suficientemente sábios para discernir o modo de edificar um cristianismo prático, um refúgio para aqueles que de novo passam a amar a Deus, o bem. Então veremos um cristianismo científico genuíno que, de fato, atestará “a realidade da missão mais elevada da força-Cristo, a de tirar os pecados do mundo” Ciência e Saúde, p. 150.. Esse é o chamado da Ciência Cristã: somos todos irmãos e irmãs em Cristo.
 
    
