Um pequeno tico-tico construiu o ninho. Abrigado nos arbustos próximos, um chupim aguardou atento. Ora, o chupim usa o ninho de outros pássaros e deixa que eles lhe choquem os ovos e alimentem os filhotes. Por isso, assim que o tico-tico deu por terminado seu ninho e o deixou desguardado, o chupim apressou-se a botar seu ovo, bem maior, junto aos ovos menores do outro passarinho.
De volta ao ninho, sem desconfiar de nada e sem reconhecer a impostura representada por aquele ovo maior, o tico-tico chocou-o como se fora seu. O ovo, como era grande, recebia mais calor. Com isso, o filhote intruso foi o primeiro a sair da casca e o primeiro a receber comida. Enquanto crescia, exigia alimentar-se com freqüência maior. O tico-tico, ainda iludido, atendia a essas demandas vorazes e com isso negligenciava seus herdeiros legítimos, que afinal morreram de fome ou foram jogados fora do ninho pelo filhote do chupim.
De certa maneira, essa é uma história tétrica, mas mesmo o reino da natureza oferece exemplos de proteção contra tais prepotências. Alguns pássaros, tais como o sabiá e o tordo, jogam fora do ninho o ovo estranho. Existe um passarinho canoro que combate engenhosamente a ave parasita. Está atento e reconhece o ovo do chupim. Constrói um segundo ninho sobre o primeiro, por vezes até um terceiro ninho, decidido a livrar-se do intruso.
Será que esse pássaro alerta não nos oferece a todos uma lição valiosa? Aprendemos na Ciência Cristã que nossa casa, nosso verdadeiro lar, é nossa consciência. Poderíamos dizer que na realidade vivemos em nossos pensamentos e que esses pensamentos determinam nossas experiências. Por isso, devemos pôr guarda e proteção ao nosso lar mental, defendendo-o contra quaisquer sugestões ou pensamentos maus, fraudulentos, parasitas, que se arroguem direitos sobre nós. Se nos deixarmos enganar pelas sugestões intrusas da mente carnal ou mortal, isto é, pelo exato oposto da Mente imortal que é Deus, possivelmente alimentaremos, sem perceber, o desenvolvimento de pensamentos maléficos, que por sua vez terminam em doença, pecado, carência, sofrimento, medo e até mesmo morte. Se acolhermos as exigências desses pensamentos e a elas atendermos, talvez suceda que, como sucede aos filhotes legítimos, as idéias, os motivos e os sentimentos que deveríamos nutrir, venham a ser negligenciados. Tal como o pássaro intruso, que para viver e crescer depende de o pássaro senhor do ninho dar-lhe guarida, assim também o erro, para existir, depende de nosso consentimento.
Não somos obrigados a acolher no pensamento sugestões maléficas e deixar-nos convencer, talvez inconscientemente, de que se trata de nossa própria maneira de pensar. A Sra. Eddy, no sermão proferido quando da inauguração d'A Igreja Mãe, fez esta afirmação consoladora: “Sabei, portanto, que possuís poder soberano para pensar e agir corretamente. Nada pode despojar-vos dessa herança e violar o Amor. Se mantiverdes essa posição, quem ou o que poderá vos fazer pecar ou sofrer?” pulpit and press, p. 3.
Às vezes, em aulas para aspirantes a escritores, pede-se aos alunos que permaneçam alguns minutos sem pensar em coisíssima nenhuma, deixando a mente “em branco”. Logo percebem que isso é extremamente difícil, se não impossível, pois a consciência humana está sempre ativa, constantemente argumentando consigo mesma, aceitando ou rejeitando os pensamentos que se lhe apresentam. Dificilmente haverá um instante em que ela não precise tomar posição, até mesmo no que concerne a coisas bem simples. Por isso, nessa argumentação mental íntima, nunca deixemos de apoiar os argumentos do bem, da espiritualidade e da pureza do homem como criação do Espírito, não da matéria.
É muitíssimo necessário estarmos atentos para distinguir entre o que podemos aceitar e o que devemos rejeitar. Aliás, esse é um desafio constante, pois as sugestões ilícitas podem ser muito sutis. Por vezes, nos assaltam de forma audível, em conversações banais, como quando falamos livremente (e com temor) sobre doenças. Outras vezes, essas sugestões nos vêm através dos meios de comunicação, com as descrições detalhadas de acidentes, atos de terrorismo, de violência ou crimes, infundindo medo em nossa mente. Por exemplo, os anúncios de remédios sugerem que será necessário usar medicamentos para aliviar mal-estares, dores, insônia e assim por diante. Não podemos permitir que sugestões clamorosas ou às vezes quase subliminares, penetrem nosso pensamento. Nem podemos aceitá-las como reais, seja para nós, seja para os outros. No livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, a Sra. Eddy escreve: “Monta guarda à porta do pensamento. Admitindo somente aquelas conclusões cujos resultados desejas ver concretizados no corpo, tu te governas harmoniosamente.” E mais adiante acrescenta: “Exclui da mente mortal os erros nocivos; então, o corpo não poderá sofrer por causa deles.” Ciência e Saúde, p. 392.
Alguém talvez diga: “Isso tudo é muito bom, mas com as tensões, pressões e exigências constantes do dia-a-dia, como ter a certeza de estar sempre pensando certo? Quais são os pensamentos certos?” Pensamentos certos são idéias do bem, provenientes de Deus. Nossa verdadeira meta deveria ser conhecer a Deus e compreender melhor Sua criação espiritual. Por isso, deveríamos nos esforçar por nutrir pensamentos de saúde, alegria, harmonia, bondade, paciência. E rejeitar desde o início a argumentação contrária de que o homem possa estar doente ou ser infeliz, desarmonioso e cruel — esse homem que em sua identidade genuína é a expressão completa do que Deus é. Precisamos logo reconhecer as sugestões intrusas, é, os ovos de chupim, antes de acalentar e alimentar pensamentos parasitas, pois se lhes permitirmos crescer, se tornarão mais agressivos e exigirão nossa constante atenção.
Deus, a Mente infinita, é a única consciência do homem. Em sua verdadeira identidade espiritual como idéia de Deus, o homem reflete essa consciência única, a Mente. Ele só pode conhecer o que Deus conhece. A Mente divina conhece sua criação como criação perfeita, portanto o homem, a expressão da Mente, só pode expressar perfeição. Deus existe. E porque Deus existe, o homem existe: é o reflexo espiritual do Espírito infinito. Deus é Mente que tudo sabe, é princípio divino, o Amor, e o homem é agora mesmo sua expressão. Precisamos reconhecer esse fato, aceitá-lo, apreciá-lo, se quisermos demonstrar a verdade contida nessa asserção e provar que somos inseparáveis de nosso Pai-Mãe Deus.
Cristo Jesus, nosso Guia, não deixava que as fraudes e falsidades da mente carnal, que nas palavras de Paulo são “inimizade contra Deus” Romanos 8:7., lhe estorvassem o pensamento. Jesus estava sempre consciente de sua união com a Mente, o Pai. Portanto, estava sempre capacitado a logo identificar as sugestões agressivas que pretendiam impressioná-lo. Essa sua consciência da filiação divina do homem também o capacitava para ver os outros como Deus os criou. O efeito era a cura. A expectativa de Jesus era a de que nós fizéssemos o mesmo.
Sem dúvida, haverá épocas em que essa tarefa talvez nos pareça difícil, desanimadora até. Com persistência, porém, e com atenção e disciplina mental, cresceremos espiritualmente. Essa é nossa meta. Ao estudar a Bíblia e os escritos da Sra. Eddy, ao aprender mais a respeito de Deus, o esforço se tornará mais leve. Encontraremos a paz, a alegria e a liberdade a que aspiramos usufruir. Nas palavras sobre Deus ditas por Jó: “Reconcilia-te, pois, com ele, e tem paz.” Jó 22:21.
Não nos portemos como o tico-tico que, ignorando o subterfúgio, acalenta o ovo estranho e não vê que os herdeiros legítimos (os pensamentos bons e construtivos que deveríamos acalentar) são expulsos do ninho. Quando as sugestões errôneas tentarem se aninhar em nosso pensamento, sejamos como o passarinho alerta: firmes e determinados a construir defesa segura e a não conviver com o erro. Devemos nos valer de nosso “poder soberano para pensar e agir corretamente”, herança que nos vem de Deus. Recusemos aceitar em nosso “ninho” quaisquer pensamentos que não desejaríamos se desenvolvessem em nossa própria experiência. Despojemos esses falsos pensamentos de tudo o que pareça dar-lhes substância ou vida.
