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A gang

Da edição de fevereiro de 1991 dO Arauto da Ciência Cristã


"Vou esperar você na saída da escola," sibilou ela com olhar fuzilante.

"Vou estar lá, não se preocupe," retruquei eu no mesmo tom.

Eu estava frente a frente com um bando de durões, no colégio, e não tinha a mínima intenção de me deixar intimidar pelas ameaças deles. Meus amigos estavam abismados com minha temeridade, e assustados. Essa era a pior gang da escola — ninguém se metia com eles, muito menos os desafiava para encontrar-se na saída. Era sabido que eles tinham canivetes e os usavam.

Por dentro, eu estava tremendo toda. Apesar da fachada de braveza, estava com medo. Meu primeiro pensamento foi para minha mãe, ela ficaria decepcionada comigo. Eu simplesmente não deveria me meter em brigas. O pensamento seguinte foi para um aspecto mais recente de minha vida: a Ciência Cristã.

Tinha apenas começado a freqüentar a Escola Dominical da Ciência Cristã, no verão anterior. A maneira espiritual, tão diferente, de ver a Deus e ao homem, estava sendo muito importante para mim. Eu gostava especialmente do conceito de que como Deus é bom, Ele não poderia criar nada mau ou desarmonioso. Esse foi o pensamento que me veio enquanto estava lá, parada, tentando me acalmar.

Aí, meus amigos e eu seguimos pelo corredor para entrar na aula seguinte. Não percebemos que o bando todo estava nos seguindo. Ao subir um lance de escada, senti-me agarrar pelo rabo-de-cavalo e ser puxada violentamente para trás.

Uma voz ameaçadora ordenou: "Peça desculpas."

Como não havia meios de me soltar, tive de dizer: "Desculpe."

A líder do bando passou então à minha frente com um risinho convencido. Agarrei-a pelo cabelo e joguei-a ao chão. Ela gritou aos amigos: "Agarrem-na!" Eu corri escada acima e dei de encontro com o professor de música.

Ele me repreendeu por estar correndo na escada e fez-me ficar perto dele até que todos tivessem entrado nas classes. Entrei atrasada na aula, mas estava muito agradecida ao professor de música. Mal sabia ele que seu castigo havia me safado de mais brigas.

Contudo, uma vez na classe, cedi às lágrimas e ao desespero. A professora veio ver porque eu estava chorando. Meus amigos contaram-lhe todos os detalhes. Ela ficou surpresa e repreendeu com firmeza minha atitude. Eu achei que ela estava sendo injusta e nada realista.

Depois da aula, fui para os fundos da escola encontrar a gang. Estava sozinha e com medo, certa de que apareceria o bando em peso. Esperei, procurando reunir toda a minha coragem. Quando olhei o relógio, vi que tinha se passado bastante tempo e entendi que eles não viriam. Fui para casa.

Chegando lá, desatei a chorar. Contei à minha mãe o que havia acontecido e ela sugeriu que orássemos um pouco.

Não entendi como isso poderia ajudar no caso. Eu gostava da escola mas não queria ter de enfrentar aquela turma novamente. Eles tinham o mesmo horário de almoço que eu tinha e um deles estava em algumas das aulas a que eu assistia. A única solução seria mudar de escola.

Mamãe disse que não podemos fugir aos problemas e eu sabia que ela estava com a razão, apesar de que me parecia impossível resolver esse impasse. Subi para meu quarto. Pensei um pouco nos acontecimentos do dia mas depois peguei minha Bíblia. Ela se abriu no livro de Mateus e imediatamente li: "Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus." Vi que essa bem-aventurança era muito apropriada mas, a princípio, a descartei. Não pretendia fazer as pazes com aquela turma.

Continuei a ler e cheguei ao seguinte versículo: "Eu, porém, vos digo: Não resistais ao perverso; mas a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra."

Isso me deixou confusa. Por que haveria alguém de voltar também a outra face? Só para levar outro tapa. Não via sentido nisso.

Todavia, este foi o versículo que forneceu o argumento decisivo: "Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem."

Pensei: "Como é possível eu amar aquela gang?"

A essa altura, voltei-me para Ciência e Saúde. Sabia que as verdades contidas nesse livro serviriam de orientação e consolo. Afinal, a autora, a Sra. Eddy, havia testado cada um dos conceitos expostos no livro e esses ensinamentos curavam, sem dúvida. Alguns meses depois de começar a freqüentar a Escola Dominical da Ciência Cristã, eu fora completamente curada de enxaquecas, por isso sabia que esses eram ensinamentos eficazes.

O trecho que realmente prendeu minha atenção foi: "Em todos os tempos e em todas as circunstâncias, vence tu o mal pelo bem. Conhece-te a ti mesmo, e Deus te dará a sabedoria e a ocasião para conseguires a vitória sobre o mal. Revestido com a panóplia do Amor, estás ao abrigo do ódio humano."

As palavras-chave para mim foram: "Conhece-te a ti mesmo ..." por isso me perguntei: "Quem sou eu?" Sabia que era filha de Deus, espiritual e perfeita. Portanto, refletia as qualidades do Amor divino, tais como ternura, sabedoria e afeição. Como cada filho de Deus reflete a Deus, cada elemento daquela gang também incluía essas mesmas qualidades.

De repente, pensei: "Ora, eles não querem realmente odiar ou brigar, assim como eu não quero. O ódio é tão estranho para eles como o é para mim."

Pude entender, então, que o ponto de vista de Jesus, expresso no Sermão do Monte, era o único que poderia destruir o ódio. Reagir à agressão simplesmente faria com que o inimigo parecesse mais poderoso. Eu devia, isso sim, lutar contra o medo e ódio, não contra a gang.

Agora sabia o que fazer. Diria à chefe da gang que eu sentia muito por ter deixado que o ódio governasse minhas ações e nos pusesse uma contra a outra. Em verdade, ela era minha irmã, fazia parte de minha família espiritual pois, afinal, tínhamos o mesmo Pai-Mãe, Deus.

Quando desci para jantar, minha mãe perguntou como estavam as coisas. Disse-lhe que havia decidido pedir desculpas a eles. Ela não fez nenhum comentário mas vi que ficara satisfeita.

Na manhã seguinte, enquanto guardava meu casaco no armário, vi a líder da gang vindo pelo corredor. Estava sozinha. Fui ter com ela e estendi-lhe a mão. Ela a apertou e eu sorri. Ela também sorriu e eu disse: "Desculpe". Ela respondeu: "Eu também peço desculpas." Ficamos ali, em silêncio, alguns momentos.

Depois disso, quando acontecia de eu topar com ela ou com alguém de sua turma, no refeitório ou nos corredores, cumprimentávamo-nos educadamente. Não demorou muito e a gang se desfez.

Aprendi lições valiosas com essa experiência. Em primeiro lugar, consegui essa cura por minha própria conta. Antes disso, eu sempre precisara da ajuda de minha mãe ou de um praticista da Ciência Cristã. Dessa vez, resolvi o problema por meu próprio raciocínio espiritual.

Segundo, e mais importante, descobri que o Amor triunfa sobre o ódio. Percebi um pouco da bondade de Deus e de Seu amor por mim e pelo mundo todo. Senti realmente a presença do Cristo a me guiar.

Toda vez que tenho de enfrentar a imagem errônea de relacionamentos em crise, lembro-me dessa lição sobre como vencer o mal. Como filhos de Deus, nós somos pacificadores.

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