É comum hoje em dia as pessoas mudarem de emprego no decorrer de seus anos de trabalho. Em determinados casos, algumas até trocam completamente de carreira, como eu o fiz. Para promover minha carreira musical, fui para uma cidade grande, onde fui trabalhar numa agência de um jornal proeminente.
Seria uma colocação temporária, disse a mim mesma, até que surgisse minha grande oportunidade na música. Depois de mais ou menos uma semana de treinamento, enquanto o pessoal corria, tentando cumprir os prazos estipulados pelo jornal e a mesa de telefone exigia atenção instantânea, concluí que esse emprego não poderia ser nem mesmo temporário!
Mas antes de desistir, telefonei a um praticista da Ciência Cristã e pedi ajuda por meio de oração. Além de despejar minhas frustrações decorrentes do emprego, também falei muito sobre algumas atitudes de meus colaboradores, acrescentando como suas falhas podiam ser corrigidas.
O silêncio na outra ponta da linha foi tão profundo, que perguntei: "O senhor está aí?" A voz gentil do praticista respondeu: "Sim, estou escutando, mas pensei que nosso verdadeiro trabalho fosse tratar dos negócios de nosso Pai, que é expressar amor cristão. Você não está pensando que você trabalha na carreira de corrigir os negócios dos outros, está?" (Essa expressão "negócios de nosso Pai" era uma referência à resposta de Jesus a seus pais, que tinham estado à sua procura: "Não sabíeis que me cumpria tratar dos negócios de meu Pai?")
Na conversa muito proveitosa que se seguiu, o praticista e eu falamos bastante sobre algumas maneiras de seguir a Cristo Jesus, tratando dos negócios de Deus. Ponderamos que Deus, o Pai, é Espírito, assim Seus negócios seriam, naturalmente, espirituais e bons. Compreendi que Deus, a Mente divina, é a fonte e a origem de todo ser verdadeiro. Uma vez que Deus criou o homem à Sua imagem, é natural que o homem espiritual expresse a ação e o propósito de Deus, assim como o reflexo no espelho representa seu original.
Contudo, a noção de que somos mortais, de que nutrimos pensamentos de queixa, de crítica e sugere que estamos separados de Deus, precisa ser corrigida. Isso ocorre na Ciência Cristã através da oração e de uma compreensão espiritual acerca de Deus, o Amor divino onipresente. Por ser espiritual e boa a identidade real de cada um de nós, podemos saber que todos nós possuímos qualidades dadas por Deus, tais como pureza, saúde, integridade e amor.
À medida que eu ponderava essas verdades espirituais, senti que podia voltar ao escritório e superar o que parecia um mau começo. Agradeci ao praticista, que riu com aprovação quando lhe disse que eu estava cansada de "corrigir os negócios dos outros" e agora me sentia mais disposta a trabalhar com afinco em meu negócio verdadeiro, ou seja, trabalhar para Deus em regime integral.
Não foi fácil de começo, mas jamais esquecerei o apoio amoroso que recebi de uma colega Cientista Cristã. Parecia que, quando eu estava tentada a explodir por causa de algum incidente, sempre acontecia de ela passar pela minha mesa. Quando passava, seu tranqüilo comentário: "Não reaja", acalmava meu pensamento e capacitava-me a expressar mais amor e paciência, não somente aos outros, mas a mim mesma. Cada vez que me sentia inclinada a querer saber por que alguns indivíduos seguiam certos meios (alguns indivíduos adotavam certas atitudes com as quais eu não concordava), dava uma olhadela no versículo bíblico que eu tinha posto sob a lâmina de vidro de minha mesa. Em The New English Bible lemos: "Estamos informados de que alguns de vós desperdiçam seu tempo, intrometendo-se nos negócios dos outros e não cuidam dos seus próprios." Sempre sentia uma satisfação íntima pela observação oportuna do Apóstolo Paulo e tentava aplicá-la.
Um de meus desafios nesse novo emprego era o de eu não ter nenhuma prática em serviço de escritório. Matriculei-me numa escola noturna, onde aprendi a escrever a máquina e a arquivar, bem como outras atividades de escritório, enquanto ainda cumpria meu horário no emprego. Mais tarde, a gerência ajustou minhas horas de trabalho de maneira que pude cumprir um contrato que havia assinado para cantar numa companhia de ópera da cidade. Esse contrato incluía participar numa tournée de outono. Os sábados eram ocupados com algumas vesperais de ópera e, inevitavelmente, lições de canto, enquanto aos domingos eu cantava como solista em uma filial da Igreja de Cristo, Cientista.
Sempre que me achava sobrecarregada e confinada pelo trabalho, sentia-me revigorada e cheia de energia ao lembrar que tudo de bom que eu estava fazendo era a evidência do trabalho de Deus e que, como tal, essa evidência estava amparada pelo Seu poder sustentador. Referindo-se à compreensão de Deus e de Seu governo, que a Ciência Cristã proporciona, a Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde: "A mente humana, imbuída dessa compreensão espiritual, torna-se mais elástica, é capaz de maior resistência, desprende-se um tanto de si mesma e requer menos repouso. Um conhecimento da Ciência do ser desenvolve as faculdades e possibilidades latentes do homem."
Percebi que estava comprovando isso a cada passo. Também, à medida que trabalhava no meu emprego, notei que algumas características negativas, frequentemente associadas aos artistas, como egocentrismo e uma tendência de querer que os outros lhe dêem atenção e aprovação pessoal, começaram a diminuir. Ao mesmo tempo, algumas da qualidades que eu tinha desenvolvido na música, incluindo liberdade de expressão, equilíbrio, espontaneidade e alegria, eram acolhidas e apreciadas na atmosfera cada vez mais agradável do escritório.
Durante esse período, um belo conselho dado pela Sra. Eddy em Miscellaneous Writings foi uma constante inspiração para mim. Escreve ela: "Obedecer ao Princípio divino que professas compreender e amar, demonstra a Verdade. Nunca estar ausente de teu posto, nunca desprevenido, nunca mal-humorado, sempre disposto a trabalhar para Deus — é obediência; é ser 'fiel no pouco'."
Algumas vezes ouvimos as pessoas dizerem que se sentem presas nos seus empregos, porque têm medo de fazer uma mudança. Podemos vencer esse medo do desconhecido, ou seja, "Serei bem sucedido?" ou "Ganharei o suficiente?" — à medida que aprendemos a nos volver sem reserva a Deus, a Mente divina, em busca de orientação e inspiração. Como a base de nosso trabalho para Deus é totalmente boa, procurar todos os bons aspectos de nosso emprego atual pode ser um bom ponto de partida. Podemos encontrar nova motivação à medida que nos empenhamos em expressar o mais alto grau de integridade e eficiência possível.
Por ser a Mente infinita, não há limite para as idéias inovadoras que o homem expressa como reflexo da Mente. Quando compreendemos um pouco mais dessa identidade espiritual, tornamo-nos mais criativos, mais produtivos. Esse renovado interesse e vitalidade podem até mesmo guiar-nos a fazer cursos para aprimorar nossas aptidões profissionais.
Através da graça e da compreensão espiritual, podemos começar, agora, a dominar o trabalho que estamos fazendo. Se fizermos isso antes de aceitar outro emprego ou carreira, anularemos a possibilidade de levar conosco alguns problemas não dominados. Aprendemos, então, que a satisfação profissional vem de dentro, é o resultado de nossa maior compreensão sobre nossa verdadeira unidade com Deus, a Mente divina, que possui toda a inteligência e a todos ama.
Quando trabalhamos para Deus, expressando ação e propósito espirituais, não só abençoamos a gerência e os nossos colegas, mas também a outras pessoas. Como nosso trabalho é o resultado de oração, não cessa de abençoar a humanidade. Cada um de nós, por meios individuais, pode ajudar a levar harmonia àqueles que nos rodeiam.
Portanto, quando você ouvir alguém dizer: "Tenho de tratar dos negócios do Pai," fique certo de que essa pessoa está tentando seguir nas pegadas do Mestre, Cristo Jesus, que declarou: "Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai."
No caso de você estar interessado em saber o que aconteceu com a minha carreira musical, meu emprego não me levou ao Metropolitan Opera. Mas levou-me ao trabalho mais gratificante e estimulante possível.
