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Até onde, no mundo, chega a oração?

Da edição de fevereiro de 1991 dO Arauto da Ciência Cristã


Como água fria para o sedento,
tais são as boas novas vindas de um pais remoto.

Provérbios 25:25

Há cerca de treze anos, pouco antes dos motins eclodirem em Soweto, localidade suburbana reservada à população negra, cujo nome tornou-se sinônimo de lutas raciais na Africa do Sul, minha mulher e eu recebemos uma carta de uns amigos residentes em Joanesburgo. Eles tinham regressado havia pouco tempo à sua terra natal, após terem vivido durante curto período nos Estados Unidos da América.

Antes de eles irem embora dos Estados Unidos, tivemos oportunidade de conversar muito sobre a situação racial existente em ambos esses países e expressamos nossas esperanças e preocupaçães mútuas. No entanto, a correspondência que trocamos mais tarde abordava, quase exclusivamente, assuntos de família. Mas na parte final dessa última carta, havia um pedido inesquecível: "Por favor, orem pelo nosso país".

Quanto mais eu orava e ponderava acerca desse pedido, mais impressionado ficava com ele. É que eles não pediam que orássemos para eles ou pela segurança de sua família, nem tampouco pela sobrevivência de um grupo racial ou sistema de governo, mas pediam que o fizéssemos pelo país. Esse pedido já dava mostras de que haviam cedido um pouco. Apercebi-me, então, que em nossa oração, nós também deviamos ceder um pouco e desapegar-nos de certas soluções preconcebidas e previsões aterradoras. Mas havia ainda que ceder num ponto ainda mais básico: o desejo ardente de conhecer melhor a Deus e de fazer a Sua vontade.

Ao procurar conhecer e fazer a vontade de Deus, o Espírito divino, somos compelidos a compreender a imensidade invisível da bondade divina, o bem universal e a consequente nulidade do mal. Perante a violência e a opressão que grassa em todo o mundo, a impotência do mal, que é sua característica fundamental, talvez pareça uma fantasia, a menos que essa impotência nos tenha ficado comprovada quando, de alguma forma, testemunhamos nas nossas próprias vidas o oposto do mal, isto é, o oposto do ódio, da doença, do pecado ou da dor, graças a haver recorrido a Deus em oração. Tendo conseguido uma vez afastar-nos da discórdia e achado a sempre disponível boa-vontade de Deus em nos curar e restabelecer, sentir-nos-emos, a partir daí, mais aptos a prestar atenção ao que pode acontecer quando a fé cega cede à compreensão das coisas do Espírito.

Mas por que importar-nos com os outros? Por que orar por um país que fica no outro lado do globo? Porque só o amor impelido por Deus pode alcançar todos os corações, corrigir o mal e elevar o nível da política e das decisões governamentais.

O amor que manifestamos para com os outros, independentemente de orientações políticas e de ideologias, é a forma principal de reagir do coração e da mente cristianizada. Cristo Jesus disse: "Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa?" Antes dessa afirmação, Lucas registrou o que passou a ser conhecido como a Regra Áurea: "Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles." A essa exigência feita em termos abrangentes, Jesus acrescentou outra, inequivocamente específica: "Amai, porém, os vossos inimigos". O amor cristão é incondicional.

Esse amor abrange tanto o aterrorizado quanto o terrorista, tanto o dissidente quanto o opressor. Somente Deus, o Amor divino, pode trazer à vítima do terrorista a libertação do medo, da aflição, do dano sofrido e também libertar o terrorista das garras do ódio e da cegueira moral, livrando-nos a todos que somos os espectadores, do desamparo e da apatia.

O que é que salva?

Algumas pessoas poderão pensar que a libertação virá sob a forma de um salvador sobre-humano, ou simplesmente, através de processos e métodos humanos, tais como governos, leis, dinheiro ou milícias. Na realidade, o mundo já possui o único Salvador de que necessita, representado pelo incorpóreo e eterno Cristo, a Verdade prática que Jesus viveu e demonstrou. O Cristo é a influência de Deus, invisível, mas onipresente. É a luz divina do Amor que inunda o coração receptivo, ativa a mente obscurecida e restaura o conceito de verdade e de amor, que se havia perdido. Aquilo de que Cristo nos salva, não é um local mítico de fogo ou condenação, denominado inferno, mas sim a agonia do ódio, da cobiça, do egoísmo, da malícia, etc., ou seja, aquele estado de pensamento que Jesus definiu como amando "mais as trevas do que a luz".

Perigo e oportunidade

A expressão chinesa para crise é constituída de dois caracteres que significam "perigo" e "oportunidade". Na crise que existe, atual-mente, em muitas partes do mundo, está bem patente a amálgama desses elementos. É possível que o maior perigo com que nos deparamos, seja a tentação de cair num estado ilusório de indiferença ou de observação insensível, em relação ao clima de violência física e mental que impera em muitas partes do mundo.

A Sra. Eddy nutria profundo interesse pelo mundo, pela solução dos seus conflitos e pela ajuda aos povos em dificuldade. Ela escreveu o seguinte acerca da sua própria oração (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany): "Oro diariamente pela solução pacífica de todos os problemas das nações, pela fraternidade entre os homens, pelo fim da idolatria e da infidelidade, pelo crescimento e estabelecimento da religião cristã, ou seja, o cristianismo do Cristo. Tenho também fé em que a minha oração seja proveitosa, e em que Aquele que dirige tudo, continue a fazê-lo até que aquele a quem pertence o direito, reine."

Nossa oportunidade reside em praticar a cura metafísica, ou cura através da oração. Ela exige que enfrentemos e expulsemos o mal no nosso próprio pensamento e que não negligenciemos fazer isso em relação àquelas formas de mal que pareçam menos perceptíveis, mais insignificantes ou bem longe da nossa própria vivência. A oração é eficaz quando distinguimos que o inimigo não é representado por pessoas que estão "lá longe", nem por leis desumanas. O verdadeiro adversário é o conceito hipnótico e falso de que a inteligência, a substância e a vida do homem são materiais. A miséria mais angustiante desta época é a ignorância acerca de Deus, o todo amoroso e onisciente Pai-Mãe, a única Mente. O acreditar em muitas mentes limitadas, a disputar recursos limitados, provoca e continua a alimentar motivos e atos limitados, restritos ao conceito terrestre e causadores de divisões.

A esperança que uma pessoa nutre em relação ao progresso coletivo da humanidade, face à desigualdade generalizada e até mesmo institucionalizada, está diretamente relacionada com o conceito que essa pesssoa tem de homem, de mentalidade e de Deus. Se aceitarmos a crença de que o homem é um organismo material com mente própria, então estaremos a aceitar que a desestabilização, a distorção e a competição violenta são fenômenos inerentes ao homem. A Ciência Cristã ensina que o homem é de fato — e inteiramente — espiritual, não mortal ou animal. Ensina que Deus é a Mente do homem, sua única e infinita inteligência. A vida real do homem não é uma mistura constituída de 90 por cento de mortalidade e uns 10 por cento escondidos e denominados "o lado espiritual da vida". Toda vitória sobre o pecado e a doença, obtida através da oração, ajuda-nos a compreender que o homem já é inteiramente espiritual, a expressão completa do Espírito divino.

Acabar com o sonho

Temos, todos os dias, a oportunidade de afastar-nos de tudo aquilo que possa aprisionar nosso desejo instintivo de nos interessar pelo bem-estar dos outros, quer essa resistência se apresente como estimativa exagerada da enormidade do problema, como uma estreiteza mental que resulte em insensibilidade, ou ainda como curiosidade mórbida. Aliás, contrariamente ao que possa parecer, essa resistência pode ser uma expressão de ignorância amedrontada, de um pensamento egocêntrico.

O medo tenta impedir nossa oração antes que a iniciemos, sugerindo que não sabemos o suficiente para orar com eficácia. Sugere que o desafio é demasiado grande, demasiado complexo ou demasiado antigo. Mas por detrás do sussurro ou do grito do medo, talvez esteja a noção de que, mesmo que a oração possa fazer com que aquele que ora, se sinta melhor, ela não pode, de fato, mudar o rumo dos acontecimentos.

Contudo, temos em Cristo Jesus um exemplo incontestável de uma expectativa radicalmente diferente como resultado da oração. Vemos nas narrativas da sua carreira, contidas nos Evangelhos, que a oração produz de fato resultados. A oração trouxe calma durante uma violenta tempestade, trouxe vida onde a morte de uma pessoa estava sendo chorada e paz a corações e mentes perturbadas.

Compreender o permanente relacionamento do homem com Deus destrói o sustentáculo do medo. Todo sofrimento que presenciamos no mundo, ou que nós próprios experimentamos, deve, finalmente, dar lugar à realidade espiritual da harmonia de Deus, ao grande fato de que somos, efetivamente, a pura semelhança do Amor. Ninguém discute, quando se diz que o sofrimento do mundo se apresenta mais real do que a realidade da existência espiritual, invisível aos olhos humanos. Se, porém, seguirmos fielmente o exemplo do Mestre, poderemos enxergar mais longe, além do rugido do mal, e visualizar a realidade, a paz que está sempre presente. A luta para obter a verdadeira paz é ganha passo a passo, mediante o uso das armas do afeto cristão e do discernimento espiritual.

Dispersando as trevas

O amor universal de Deus para com Seus filhos, quando compreendido e acalentado, dissipa as trevas da crença teológica em predestinação ou em salvação restrita a alguns eleitos. Cada uma das idéias de Deus é "escolhida" ou seja, formada pelo Espírito, com objetivo divino. No universo do Pai-Mãe não existe hierarquia de importância, nem alguém que não seja amado ou que não seja necessário.

Cry, the Beloved Country (Chora, o país querido), escrito pelo autor sul-africano Alan Paton, é um hino arrebatador ao poder do amor como antídoto contra o veneno do ódio. A introdução contida no livro mostra o ponto de vista de Alan Paton acerca dos desafios que perturbam, atualmente, seu país. Ele conclui: "Creio, com certeza inabalável, que a única força capaz de resistir ao poder do medo, é a força do amor. Os homens desprezam-no ou ridicularizam-no, dizendo que é prova de fraqueza ou de ternura inoportunas. Mas anseio pelo dia em que, na Àfrica do Sul, nos aperceberemos de que a única solução vantajosa e duradoura para nossos graves e profundos problemas, reside não no uso da força, mas sim naquela compreensão e compaixão, sem as quais a vida humana é um intolerável cativeiro, condenando-nos todos a uma existência de violência, miséria e medo."

Num mundo abalado pelo terrorismo e pela opressão, o amor pode parecer algo de frágil, até que o conceito humano de amor ceda ao poderio irresistível e à terna presença do Amor divino. Expressar o amor é a mais básica das ações do homem espiritual; o filho do genuíno Amor não pode ser levado a destruir.

Quer tenhamos um amigo que nos recorde a necessidade de maior empenho espiritual, quer comecemos a responder aos gritos que clamam por ajuda, que nos chegam diariamente de todo o mundo, através das notícias, temos tudo o que é necessário para responder cabalmente. Temos o Cristo, a mensagem divina do Amor, que nos fala da liberdade inata e da presente espiritualidade de todos os filhos de Deus. O potencial impacto de cura inerente a essa verdade ressuscitadora no pensamento de uma determinada pessoa, assim como suas repercussões, até mesmo nos confins do mundo, são vastos. Essa mensagem e seus profundos efeitos sobre a humanidade, se acatados, verdadeiramente constituem as "boas novas vindas de um país remoto".

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