Minha amiga Cátia está sempre fazendo perguntas difíceis. A última que fez foi bem difícil. Deu o que pensar, pois disse: "Conheço uma porção de palavras para descrever a Deus. Mas por que é tão difícil sentir que Deus está aqui comigo?"
Cátia cresceu lendo sobre Deus na Bíblia. Eu sabia que ela aprendera que há um só Deus, o criador de todo o bem, que é "tão puro de olhos, que não pode ver o mal" (Habacuque). Ele é a fonte de toda vida e sabedoria. Não é somente Deus, nosso Pai, mas é a fonte de todo amor, que nos cuida e protege como a filhos queridos.
Cátia e sua família levam a sério todas essas declarações e quando surgem problemas, oram para ver a verdade absoluta desse Deus bom e todo-poderoso e como essa bondade se expressa em nossa vida. E têm tido curas maravilhosas. Mesmo assim, ela diz que: "às vezes, é ainda muitíssimo difícil reconhecer que Deus está bem perto de nós, sentir realmente Sua presença."
Eu sabia que ela não pensava que sentir a presença de Deus era como ser abraçada pela mãe ou algo assim, pois ela sabe que Deus não é um ser humano. A definição de Deus dada pela Sra. Eddy no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, está baseada nos termos usados na Bíblia. Diz: "Deus. O grande Eu Sou; Aquele que tudo sabe, que tudo vê, que é todo-atuante, todo-sábio, a tudo ama, e que é eterno; Princípio; Mente; Alma; Espírito; Vida; Verdade; Amor; toda a substância; inteligência."
Mas como já foi dito, porém, não é suficiente recitar as palavras. Pensei: "Quantas vezes teimamos em pensar que basta somente dizermos as palavras certas, ou sabermos algo intelectualmente, para praticar a Ciência Cristã?" É como dizer: "Ora, Deus é Mente, portanto, em realidade, não tenho de estudar muito para esta prova. A Mente dar-me-á as respostas." Em vez disso, deveríamos entender que parte de expressar essa Mente, maravilhosamente inteligente e criativa, consiste, também, na atividade correta de estudar inteligentemente e de ouvir criativamente. Não somente dizer "as palavras certas" como se fossem uma fórmula mágica.
No entanto, como obter de fato essa sensação de presença da Mente, ou do Amor, de nosso Pai-Mãe, Deus?
Lembram-se da história bíblica em 1 Reis, em que o profeta Elias é aterrorizado por Jezabel? Ela está furiosa com ele e quer que ele seja decapitado. Então ele se assusta, foge e deita-se sob um zimbro, tão cansado e desanimado que só deseja morrer. Mas vem um anjo e alimenta-o. Então Elias continua pelo deserto até o Monte Horebe. Enquanto está no monte, aprende, de modo extraordinário, como distinguir o que é e o que não é a presença de Deus. A Bíblia diz: "Eis que passava o Senhor; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante dele, porém o Senhor não estava no vento; depois do vento um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto; depois do terremoto, um fogo, mas o Senhor não estava no fogo; e depois do fogo um cicio tranqüilo e suave."
De começo, todos aqueles ruídos e, a seguir, a suave voz de Deus. Penso que é uma das melhores descrições que conheço do que significa sentir a presença de Deus bem junto a nós. Quando estamos muito calmos interiormente, começamos a ouvir a voz da Alma. Quando nos sentimos realmente felizes, quando um momento de alegria explode em nós; quando temos uma idéia nova; quando fazemos uma gentileza a alguém; quando alcançamos de bicicleta o topo de uma colina e descortinamos um glorioso pôr-do-sol; quando uma pintura, ou um poema ou uma peça musical nos comove profundamente; quando um amigo chora e nós oferecemos um intenso e amoroso abraço; quando estamos feridos ou sentimos dor e nos aquietamos tanto em oração que somos curados — tudo isso mostra-nos alguma coisa de como a presença de Deus se faz sentir em nossa vida. Estamos vislumbrando a criatividade da Mente, a alegria e a beleza da Alma, a compaixão do Amor divino.
Se, porém, algo nos faz estremecer como se fora um terremoto, ou tudo parece como um furação em nossa vida, dispersando as idéias ou perturbando nossa paz; se estamos loucos de raiva ou de frustração, dá para perceber que isso é o que Elias viu primeiro. São imposições assertivas e ruidosas que tentariam deter nossa alegria, nosso progresso e nossa vida, mas não têm poder real. É quando nos tornamos intimamente silenciosos, através da oração, que o "cicio tranqüilo e suave" nos toca. Então, podemos sentir a presença curativa de Deus.
Esse conceito de Deus está sempre aqui mesmo, para nos ajudar. Nunca podemos estar sem ele, porque cada um de nós está para sempre com Deus como filho de nosso Pai-Mãe. Nunca estamos fora dessa presença cálida e protetora. Nem o podemos estar.
Gosto muito da última estrofe deste hino do Hinário da Ciência Cristã:
A toda hora, Tu comigo estás.
Sei que és Verdade, Vida, força, paz.
Não mais preciso, ó Deus, Te implorar,
Comigo sempre hás de habitar.
Cátia está ainda fazendo boas perguntas e algumas delas continuam a tocar nesse ponto. Mas ela me diz que está mais segura, agora, pois quando ama ou se sente amada está cônscia dessa presença de Deus, sempre próxima, sempre disponível.
Quando confiarmos na voz suave a falar a cada um de nós, ouviremos Deus no silêncio. Aí, sentimos Sua presença e a sensação de nossa profunda intimidade com Deus torna-se cada vez mais clara até compreendermos, sem sombra de dúvida, que nunca estamos separados de toda a bondade que Ele nos dá.
