Durante a infância,eu aprendi bastante sobre como conduzir minha vida, aplicando os ensinamentos da Christian Science. Eu não conhecia nenhum Cientista Cristão fora da minha família, mas tinha certeza de que todos os Cientistas Cristãos pensavam exatamente da mesma maneira a respeito de tudo. Não via a hora de conhecer algumas dessas pessoas especiais que, eu achava, estariam de acordo em tudo!
Mais tarde, quando pude conhecer outros Cientistas Cristãos, fiquei um tanto perplexa. Sem dúvida, eles eram ótimas pessoas, inegavelmente sinceras em seus esforços por permanecer fiéis na prática dessa Ciência. Concordavam entre si a respeito da verdade espiritual absoluta sobre Deus e o homem, como é ensinada na Christian Science. No entanto, fiquei surpresa ao constatar que tinham opiniões conflitantes sobre como os ensinamentos da Ciência se aplicam a diversas questões humanas. Nas questões de defesa nacional, uns defendiam a luta armada, outros a reprovavam. Alguns se preocupavam mais com o meio ambiente, ao passo que outros defendiam o desenvolvimento industrial. Alguns eram liberais e outros conservadores. Tinham diferentes conceitos sobre como criar os filhos ou como administrar as finanças. Até mesmo sobre a administração da igreja filial, tinham opiniões diferentes. Além disso, todos fundamentavam seu ponto de vista em trechos da Bíblia e de Ciência e Saúde. Isso me deixava intrigada, sem dúvida, pois a Christian Science revela que Deus é a única Mente e o único Criador; portanto, como filhos de Deus, como Sua expressão, todos nós, na verdade, temos a mesma Mente. Como era possível as pessoas orarem ao mesmo Deus e depois virem com respostas tão diferentes?
Parecia-me, então, que eu deveria poder determinar, em cada situação, quais Cientistas Cristãos tinham razão e quais estavam enganados sobre a direção da Mente divina. Os que haviam crescido mais e se aprofundado mais na compreensão espiritual seriam os “certos”. Estes concordariam entre si!
Explorando essa hipótese, acabei descobrindo algo digno de nota. Em geral, quanto mais espiritualizadas eram as pessoas, menos obstinadas eram na convicção de que tinham todas as respostas. Conhecendo melhor a infinidade da Verdade divina, elas eram menos apegadas às suas opiniões humanas. Contudo, fiquei ainda mais confusa quando descobri opiniões conflitantes mesmo entre esses metafísicos. Se mesmo eles não estavam de acordo em tudo o que se relacionava com a aplicação da Christian Science à experiência humana, como é que eu poderia ter certeza de estar seguindo os ensinamentos dessa Ciência? (Permitam-me repetir, aqui, que não estou me referindo àquilo que a Christian Science ensina sobre Deus e o homem, mas a como essas verdades espirituais se aplicam às situações do dia-a-dia.)
Continuando a orar a esse respeito, comecei a ver que, em muitas ocasiões em que eu estava vendo diferenças de opiniões, não havia, em realidade, nada para me preocupar. Vou dar um exemplo. Tenho dois amigos, uma mulher e um homem, que são Cientistas Cristãos extraordinariamente dedicados. Ambos são sanadores altamente eficientes. Tenho por ambos o máximo respeito. Eles trabalham a partir do mesmo fundamento: ou algo é espiritualmente verdadeiro, ou não é. No entanto, como pude observar, eles têm conceitos diferentes no que diz respeito à maneira de administrar o dinheiro, como discípulos de Cristo Jesus.
Minha amiga mulher, compreendendo a presença do Amor divino infinito, transformou em abundância a situação financeira de sua família, a qual fora antes desesperadora. Investiu de forma sábia e criativa tudo o que ganhou. Ela valoriza muito seu trabalho de cura e coloca as coisas do Espírito em primeiro lugar na sua vida. Contrata empregados a fim de ter mais tempo para dedicar ao seu trabalho espiritual. Sua única fonte de renda é a prática pública da Christian Science, e ela tem os meios de apoiar financeiramente a igreja, de ajudar instituições de caridade, bem como a família e os amigos, e é muito generosa nisso. Ela dedica sua vida a ajudar e curar os outros pela compreensão e pela prova prática de que não há nada que seja bom demais para o filho de Deus. Apesar de sua situação financeira confortável, ela dá pouca ou nenhuma importância às coisas materiais em si. É um bom exemplo de obediência ao ensinamento bíblico: “Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento; que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida” (1 Timóteo 6:17–19).
Meu amigo, por sua vez, é igualmente devotado a dar de si para abençoar e curar outros. Contudo, sua demonstração das mesmas verdades do amor e da abundância de Deus assume uma forma diferente. Embora tenha tudo o que precisa, ele se concentra mais na importância de rever totalmente o próprio pensamento com relação àquilo que vem a ser a boa qualidade e a abundância, e buscar apenas isso. Ele expressa de forma notável qualidades tais como modéstia, moderação, frugalidade e autocontrole. Muito embora sua habitação modesta e as roupas simples que ele gosta de usar talvez não deixem isto muito evidente, há uma majestade e uma dignidade em seu caráter que evidenciam, de forma prática, glória e riquezas espirituais.
Com relação a esse amigo, penso em um versículo da Bíblia: “... não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:25, 33).
Não é o caso de dizer que a demonstração de um está errada e a do outro está certa. Ambas são apropriadas. Nem considero isso como algo relacionado à verdadeira individualidade, na qual cada filho de Deus manifesta a inteireza das qualidades divinas de forma individual. Para mim, trata-se do fato de que, em última análise, cada um de nós tem de manifestar o todo da individualidade espiritual, e tem de demonstrar a natureza ilimitada da Verdade divina; temos, portanto, de começar em algum ponto. O Cristo, a influência divina no pensamento humano, faz com que cresçamos até abandonar nossas atuais forças. Impele-nos a construir cada vez mais sobre aquilo que mais facilmente compreendemos até que, finalmente, o entendimento espiritual dissolva toda influência falsa e mortal. O desdobramento espiritual se manifesta em tantas formas quantos indivíduos existem.
Ninguém precisa ir até o fim do mundo para encontrar “o” certo, humanamente. Podemos nos maravilhar das inúmeras maneiras pelas quais cada verdade da Bíblia e cada declaração de Ciência e Saúde podem ser aplicadas. O respeito pelo desdobramento individual, todavia, não diminui de forma alguma a necessidade de seguirmos os ensinamentos absolutos da Christian Science, de sermos fiéis ao padrão de moralidade e à confiança radical na Verdade, e de obedecermos aos requisitos para a filiação na The First Church of Christ, Scientist.
Somos divinamente dirigidos de forma individual. Acontece com demasiada freqüência de acharmos que devemos convencer os outros daquilo que consideramos certo. Ou pode acontecer de nos desviarmos daquilo que nos parece mais correto, quando outra pessoa tenta nos influenciar. Em consonância com a verdade de que cada indivíduo tem relação direta com Deus, os praticistas da Christian Science não devem dar conselhos a seus pacientes, os professores da Christian Science não devem controlar seus alunos, e os Cientistas Cristãos não devem injetar suas opiniões no casamento dos outros. A Sra. Eddy escreve em Miscellaneous Writings: “Para os estudantes, trabalhar junto nem sempre significa cooperar, às vezes significa acotovelar-se! Cada estudante deve buscar exclusivamente a orientação do Pai que temos em comum — ou seja, o Princípio divino que o estudante mesmo afirma demonstrar, — e especialmente ele deveria mostrar sua fé pelas obras, de forma ética, física e espiritual” (p. 138).
Essa questão de como o estudante da Christian Science deveria conduzir a sua vida diária, não é tão simples como eu pensava. Mas eu encontrei a maneira de ir em frente. É orar; é confiar naquilo que me vem de Deus, com relação às questões que me dizem respeito; é ter a disposição de mudar o meu curso de ação se receber uma inspiração mais clara; é aceitar a habilidade que o Cristo tem de orientar o meu próximo.