Diariamente temos decisões a tomar. Algumas não têm importância e não tomam muito tempo. Outras talvez exijam uma devotada e profunda oração, pois terão efeito a longo prazo. Buscar a orientação de Deus em todas as nossas atividades diárias, realmente nos ajuda a tomar sábias decisões e a prevenir o acúmulo de erros. Mas, o que fazer se hoje estivermos enfrentando aquilo que parece ser a conseqüência do passado, de decisões tomadas há muito tempo e de que agora nos arrependemos? Pode a oração nos ajudar nesse caso?
Recentemente, tive uma experiência que confirmou a importância de estarmos alertas para tomar decisões sábias e guiadas por Deus — inclusive decisões sobre como pensar a respeito do nosso passado. Durante uma reunião de família, meu irmão contou-me que um amigo meu havia falecido. Esse amigo tinha feito parte de minha vida durante vários anos, no final de minha adolescência. Eu estivera muito apaixonada por ele. Contudo, casei-me com outra pessoa. Esse primeiro casamento terminou em divórcio, e outros relacionamentos subseqüentes também apresentaram desafios. Nos anos seguintes, às vezes me lembrava desse antigo namorado, mas nunca mais o havia visto.
A notícia de seu falecimento me trouxe uma forte sensação de pesar e de perda, fiquei surpresa com a intensidade de meus sentimentos. Fui tomada por pensamentos do tipo: se eu tivesse ficado mais alerta contra as pressões da família; se tivesse sido mais consciente das influências que me levaram a casar com outra pessoa; se pudesse voltar no tempo, etc., etc.! Sentia raiva, mágoa e um doloroso vazio do “que poderia ter sido”.
Imediatamente pude perceber que, no passado, em nenhum desses relacionamentos eu havia buscado a direção de Deus. Nesse momento, muitos anos depois, volvi-me à Bíblia em busca de respostas e fui levada ao Sermão do Monte, proferido por Cristo Jesus. Esse lindo sermão nos fala de vigilância, pureza, fidelidade, perdão e muito mais. Essas qualidades, cultivadas e expressas, alinham nosso pensamento com a perfeição espiritual daquilo que Deus criou. Existe melhor maneira para se começar a examinar nossa vida do que com “Nosso Pai” — as primeiras palavras da Oração do Senhor, que também está nesse sermão? (Mat. 6:9). Aí encontramos uma base sólida, a partir da qual compreendemos que, na verdade, estamos todos sob a orientação de nosso Pai, Deus, que só conhece a perfeita harmonia e expressa essa perfeição em Suas idéias, Seus filhos. Com Ele, não é possível cometer erros.
“É preciso revisar a história humana, e apagar o registro material”, afirma a Sra. Eddy em seu livro autobiográfico Retrospecção e Introspecção (p. 22). Ao ler esse comentário, ficou claro que eu precisava compreender que o homem real não tem passado. Com base nesse fato absoluto, podemos ver que as decisões aparentemente erradas não precisam fazer parte permanente de nossa experiência. Também precisei reconhecer a impossibilidade de ter havido qualquer influência adversa em minha vida. Eu podia perdoar o que precisava ser perdoado, inclusive a mim mesma.
Orei para compreender o homem que Ciência e Saúde descreve como: “A idéia espiritual de Deus, individual, perfeita, eterna” (p. 115). Pouco a pouco, consegui aceitar meu verdadeiro ser como “uma imagem na Mente”. Essa frase faz parte da definição de idéia, que está na mesma página. Se eu sempre fora uma imagem na Mente (e sabia que essa era a verdade espiritual), nunca tivera uma mente separada de Deus, capaz de cometer um erro que pudesse assombrar minha vida e que influísse na vida de outros. Aquilo que parecia estar virando minha vida de cabeça para baixo era somente uma pseudoforça, que me fazia acreditar que estávamos separados de Deus.
Como Deus é, e sempre foi, o único poder, nunca poderia ter havido outra influência para levar a mim ou outra pessoa a cometer um erro. Eu não poderia ter sido vítima de nenhum argumento de que algo estaria fora do amor e controle de Deus. Não importa o que parecesse ter acontecido no passado, eu nunca estivera separada de Deus, meu Pai; eu sempre estivera (e estou agora) sob Seu terno cuidado, sou amada, sustentada e guiada por Ele.
À medida que me firmei nessas verdades fundamentais e aceitei seu poder regenerador em minha vida, acabei reconhecendo que cada uma das pessoas que haviam tomado parte nos acontecimentos estava envolvida por idéias espirituais. Eu sabia que cada um de nós sempre manifestara inteligência, integridade, ternura e a inteireza do homem, ou seja, a imagem de Deus. Não havia ninguém em falta, nenhum culpado.
Esse não foi um “jogo mental”. Libertou-me do fardo de um passado falho. Eu estava renascendo, com um completo e novo senso de perdão e bondade. A compreensão de minha original pureza e de minha inteireza foi sendo restaurada e revitalizada e, dessa forma, minha história humana foi sendo revisada.
Isso fez com que eu compreendesse que, para uma idéia, não havia nenhum processo de morte. As qualidades, que eu havia amado tanto, constituíam a verdadeira individualidade de meu amigo como idéia e não poderiam ser alteradas nem destruídas pela morte, pois são espirituais e eternas. Pude reconhecer que aquelas mesmas qualidades espirituais haviam também sido evidentes no homem com quem me casara. Nenhum de nós jamais tivera uma mente separada de nosso Pai celestial, e Ele mantivera a todos nós em harmoniosa existência.
As decisões aparentemente erradas não precisam fazer parte permanente de nossa experiência.
Veio então a libertação final da impressão de que todos aqueles anos haviam sido perdidos, de que o amor não fora correspondido, e de que haviam sido cometidos erros imperdoáveis. “Onde Deus está podemos nos encontrar e onde Deus está nunca podemos nos separar”, escreve a Sra. Eddy em seu livro The First Church of Christ Scientist, and Miscellany (p. 131). Uma compreensão mais profunda disso trouxe-me a certeza de que era correto relembrar toda a beleza, bondade, ternura e amor — qualidades espirituais, dadas por Deus — que ambos, ex-namorado e ex-marido, haviam manifestado. Contudo, para eu perceber que estava “onde Deus está ...” não poderia haver nenhum apego a uma personalidade física ou à sugestão de que haviam sido cometidos muitos erros. Pude ver que as qualidades espirituais expressas em cada uma das individualidades encontram-se e unem-se onde Deus está, jamais em um sentido mortal de vida. Com essa compreensão, minha apreciação por essas duas pessoas foi transformada, com uma maior compreensão da inteireza de cada um, como idéia de Deus individual e espiritual. O registro material estava sendo apagado e senti-me livre do pesar, do remorso e da autocondenação.
Ao reexaminar o que aprendi com essa longa experiência, reconheci a grande necessidade de darmos atenção à espiritualização de todos os detalhes de nossa vida. As verdades aprendidas com o estudo da Christian Science nos suprem a cada momento com aquilo que é necessário para anular qualquer sugestão de má influência ou falsa atração. Precisamos, porém, iniciar cada dia plenamente conscientes de nossa espiritualidade, a condição inquestionável de nossa própria individualidade como reflexo de Deus. Depois, precisamos ficar mentalmente despertos, sempre gratos e receptivos à terna orientação que vem a cada momento. O resultado final dessa oração diária colocada em prática, é uma maneira mais calma, segura e confiante de lidar com cada contato humano. Isso purifica nossos motivos e abençoa a todos aqueles com quem nos relacionamos.
