Luz Lajous está ligada ao trabalho público há mais de vinte anos. No México exerceu vários cargos, principalmente como deputada na década de 1980 e senadora na de 1990. Atualmente é Presidente do Conselho Pró-Mulher do México, uma instituição com programas em vários países da América Latina.
Gerente de Redação do Arauto em espanhol, entrevistou a Sra. Lajous.
Enrique Smeke: Certamente, servir ao México como deputada e senadora deve ter lhe dado uma visão do que o povo anseia.
Luz Lajous: Essa é uma das grandes vantagens de estar num cargo de representação. Tem-se a oportunidade de conhecer as pessoas do distrito mais intimamente. Mas também é importante conhecer os representantes das outras partes do país, para conseguirmos uma comunidade na Câmara. É como o crisol da pátria, muito enriquecedor.
ES: Isso permitiu que a senhora estivesse em contato direto com o povo?
LL: Claro, especialmente na época das eleições na Cidade do México, onde me aproximei muito do grupo das mulheres, que são líderes naturais da comunidade. Ví como trabalham e como participam da sociedade para tentar melhorá-la.
ES: Como senadora e deputada, a senhora teve a oportunidade de destacar a importância da mulher?
LL: A presença das mulheres na legislatura e discutir o tema da vida diária feminina provoca grandes mudanças.
ES: O que a levou a se envolver nas atividades do Conselho Pró-Mulher e nos serviços de ajuda à mulher?
LL: Eu acredito na participação. Como resultado da minha vida política, enfrentando a realidade cotidiana e conhecendo o povo, eu me simpatizei naturalmente com as mulheres, pois elas sempre foram as mais exploradas. Com o tempo, passei a me dedicar mais a ajudar a classe feminina.
ES: Essa instituição incentiva a mulher a ajudar a família e a si mesma a sair da pobreza?
LL: Sim. As necessidades das mulheres são muitas, pois representam também as necessidades de seus filhos e maridos. Pouco a pouco, aprendi como conhecer a elas, a sua cultura, seu temperamento e suas necessidades. Cheguei à conclusão de que o programa de Micro-Crédito para Mulheres seria o mais eficaz para quebrar o ciclo da pobreza.
ES: Em muitos casos, isso coloca a mulher como chefe da família, não é?
LL: Em nossa sociedade, a mulher já é a chefe da família em muitos casos. Uma porcentagem muita alta de famílias mexicanas com poucos recursos já é liderada por mulheres. O homem nem sempre permanece no lar e é a mulher que fica com os filhos. Já foi comprovado que 25% das famílias com poucos recursos são chefiadas por mulheres. São elas que dão de comer aos filhos, que os mandam para a escola e é graças a elas que os filhos sobrevivem. Nós as ajudamos a melhorar o que estão fazendo, para dar-lhes oportunidades de crescimento e progresso.
ES: E quais são os resultados?
LL: O programa ainda é muito novo no México, mas posso dizer que a primeira mudança ocorre na autoestima da mulher. Ela adquire mais confiança em si mesma quando tem acesso ao crédito para melhorar o seu negócio, quando se torna uma pessoa digna de crédito. Nosso programa não só dá o crédito, como também o treinamento básico em finanças e negócios. Isso as ajuda a ter uma idéia do custo das coisas e de até onde o preço pode chegar para que elas tenham lucro. Dessa maneira seus negócios melhoram e com o crédito elas podem expandi-los. Se antes ganhavam para sobreviver, agora têm uma margem de lucro que lhes permite melhorar a qualidade de vida.
ES: Isso oferece esperança...
LL: Não só esperança, mas oportunidade e fé em si mesma. Um dos aspectos interessantes desse programa é que ele é feito por intermédio de grupos solidários, quer dizer, não são créditos individuais. São formados grupos de 25 mulheres que se ajudam entre si e são avais umas das outras. Se uma das mulheres tem um problema e não pode pagar, as outras juntas pagam a parte dela. Mas, ao se reunirem e compartilharem suas experiências e conhecimentos, estão enriquecendo e melhorando a vida de cada uma.
ES: Que outras coisas a senhora percebeu?
LL: Essas mulheres são notáveis. A primeira coisa que aprendi enquanto fazia campanha no México, é que são as mulheres que se movimentam, que juntam assinaturas para que um parque seja arrumado, que sempre pensam no que mais pode ser feito pela comunidade, pois sabem que o benefício será para suas famílias.
ES: Eu ouvi dizer que durante o terremoto de 1985 no México, as mulheres instalaram mesas nas ruas e davam de comer às pessoas que trabalhavam no serviço de resgate.
LL: Sim, foi um trabalho totalmente voluntário. Para mim, esse desejo que tenho de fazer alguma coisa para ajudá-las foi uma descoberta.
ES: A senhora tinha comentado que o México não é um país onde as mulheres saem de casa para seguir uma carreira, mas será que isso está mudando?
LL: Como no resto do mundo, a mudança é notável. Agora as mulheres constituem metade dos estudantes e mais de um terço da força de trabalho. O que acontece é que não temos o mesmo desenvolvimento de um país do primeiro mundo. Além disso, a cultura mexicana continua a ser uma cultura machista. As transformações têm sido extraordinárias, mas ainda hoje, no México, a mulher precisa aceitar um emprego duplo: manter o lar e ser responsável por ele e, se puder, estudar para seguir uma carreira.
ES: Que qualidade se destaca entre essas mulheres?
LL: A generosidade. O espírito comunitário desse povo antecede a conquista. As comunidades existiam e ainda existem, estão vivas e sabem ser solidárias entre si.
ES: Estando presente em tantas etapas da vida mexicana e tendo ajudado de tantas formas diferentes, qual é o papel desempenhado pela intuição e pela esperança no seu trabalho?
LL: A esperança é a palavra mais importante para que a pessoa possa ver o futuro de forma positiva. Creio que no México o povo tem esperança e é essa esperança que o faz progredir. É um dos sentimentos fundamentais para que a sociedade possa encontrar a felicidade. Quanto mais se difundir o trabalho do Conselho Pró-Mulher e de instituições afins, melhor será tanto para aquele que recebe, como para aquele que dá.
