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“Aba, Pai”

Da edição de agosto de 2004 dO Arauto da Ciência Cristã


Uma característica particularmente inspirativa dos Evangelhos é a forma como Cristo Jesus se relacionava com Deus. Era um relacionamento íntimo e terno, fruto de um conhecimento profundo da natureza divina. Para Jesus, Deus não era uma autoridade temível e distante, entronizada em algum lugar etéreo. Para ele, Deus era “Papai”.

Sim, “Papai” é o significado da palavra Aba, que o Mestre utilizou em sua oração, no Jardim das Oliveiras: “Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres” (Marcos 14:36). No idioma aramaico, Aba era a expressão utilizada pelas crianças da época para dirigir-se ao pai. Era uma forma carinhosa de tratamento achava-se entre as primeiras palavras que a criança aprendia a falar.

Em contraposição, o termo hebraico para “pai” era 'av e tinha diversos significados além do de pai biológico. Indicava também o chefe de uma família, um ancestral, o fundador de uma nação (como “pai Abraão”), um protetor, além de ser usado como termo de respeito para com alguém que tivesse autoridade, como um profeta ou sacerdote.

Embora a idéia de Deus como Pai não fosse estranha à cultura hebraica do Antigo Testamento, ela referia-se a Deus principalmente como Criador, como origem. “...agora, ó Senhor, tu és nosso Pai, nós somos o barro, e tu, o nosso oleiro, e todos nós, obra das tuas mãos” (Isaias 64:8). Acontece que a figura do pai-patricarca das famílias de então era de alguém que tomava as decisões, o juiz do grupo familiar, a autoridade final. Em conseqüência, era essa a noção que o povo “transferia” para Deus como Pai. Não havia nesse conceito a conotação afetiva e carinhosa do Aba, Pai que Jesus usou.

Vemos assim que o conceito que Cristo Jesus tinha de Deus (e esse conceito se refletia em todos os seus ensinamentos e atos) era profundamente diferente e estranho para os fariseus. Isso explica, de certa forma, a aparente contradição contida no clamor dos judeus perante Pilatos, por ocasião do julgamento do Mestre: “Temos uma lei, e, de conformidade com a lei, ele deve morrer, porque a si mesmo se fez Filho de Deus” (João 19:7). As Escrituras chamavam a Deus de Pai, mas os doutores da lei consideravam como crime passível de morte o considerar-se filho desse mesmo Deus.

Esse contraste de conceitos havia sido denunciado por Jesus, quando disse: “...quem me glorifica é meu Pai, o qual vós dizeis que é vosso Deus. Entretanto, vós não o tendes conhecido; eu, porém o conheço” (João 8:54, 55). Em outro encontro tumultuado com os judeus, o Mestre perguntou: “...daquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, dizeis: Tu blasfemas; porque declarei: sou Filho de Deus?” (João 10:36).

Dos quatro Evangelhos, o de João é o que mais reconhece essa insistência de Jesus em se referir a Deus como Pai. Há nele 96 versículos em que Jesus diz “o Pai” em vez de dizer “Deus”. O ponto de partida do quarto evangelista não é o mesmo que o de Mateus, Marcos e Lucas. Ele inclui eventos e palavras, ensinamentos e considerações de Jesus que não são encontrados nos outros Evangelhos. Segundo muitos estudiosos, João foi o que melhor compreendeu a natureza espiritual da origem e da missão do Mestre. Enquanto Mateus e Lucas se esforçam para provar que Jesus é procedente da linhagem de Davi e que„ portanto, é o Messias esperado, João dá muito mais ênfase àquilo que o Mestre ensinou a respeito de Deus. Ele é o Messias esperado simplesmente porque conhece o Deus verdadeiro, o Pai amoroso. Ele faz muitos sinais e prodígios como prova da verdadeira natureza do Pai e de Seus filhos.

Era esse conceito de Deus como Pai amoroso que dava a Jesus autoridade para chamar os outros de “irmãos” e para pregar a fraternidade. Paulo entendeu que esse mesmo conhecimento e, por conseguinte, esse mesmo senso de filiação, estava à disposição de todos e, por isso, escreveu em suas epístolas:

“Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai” Romanos 8:15). “E porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!” (Gálatas 4:6).

A título de curiosidade, compartilho a informação de que foi lançada no Brasil uma tradução da Bíblia para a língua mbyás, falada por aproximadamente 16.000 índios guaranis. É a primeira edição completa das Escrituras numa língua indígena, no Brasil. Uma das dificuldades nessa tradução foi escolher um termo para “Deus” que transmitisse um conceito cristão. Os vocábulos usados nesse idioma para designar divindades tinham todos uma conotação de temor; e qual foi a decisão final? Sempre que na nossa Bíblia em português aparece a palavra “Deus”, na língua mbyás aparece Nhanderuete, ou seja, “nosso pai verdadeiro”.

Bibliografia: Estudo Perspicaz das Escrituras, Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados; Bíblia de Estudo Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil; Dicionário do Strong's Exhaustive Concordance of the Bible; The Search for God, Marchette Chute; Folha de São Paulo, 25/04/2004

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