Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem, no mundo todo, por várias razões. Ela se torna mais difícil quando se refere a questões de caráter financeiro: “Será que eu terei o suficiente para pagar o próximo aluguel ou a prestação de minha casa? Para abrir um negócio ou me lançar em uma nova carreira? Para meu sustento quando me aposentar?" As pessoas que trabalham na área de criação podem se perguntar: Será que eu tenho talento suficiente para assumir a função principal? Será que eu tenho conhecimento suficiente para assumir o projeto sozinho? Além disso, há ainda a dúvida quase universal nos dias de hoje: Será que eu terei tempo para fazer todas essas coisas?
Para responder sim a qualquer uma dessas perguntas talvez precisemos mudar radicalmente nossa percepção sobre dois pontos básicos.
Primeiro, nossa percepção do “eu” nessas perguntas talvez precise mudar, passando do pronome pessoal “eu”, que representa o ego humano, para o “Eu” ilimitado e incorpóreo, que representa a Mente infinita que é Deus. O Princípio-Vida é suficiente em todos os tempos e em todas as circunstâncias. Além disso, o Deus que é também o Amor que sempre nos dá aquilo de que precisamos, nos supre dos pensamentos, motivos e energias que verdadeiramente satisfazem todas as necessidades humanas.
Mary Baker Eddy, a reformadora cristã que redescobriu o método de cura de Jesus, percebeu a promessa que existe nessa mudança de pensamento a respeito de Deus e da individualidade. Ela escreveu: “O 'eu' irá para junto do Pai quando a mansidão, a pureza e o amor, instruídos pela Ciência divina, o Consolador, guiarem ao Deus único: ver-se-á então que o ego não está na matéria, mas na Mente, pois existe apenas um Deus, uma Mente; e assim o homem não pretenderá possuir nenhuma mente separada de Deus” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, pp. 195–196).
A segunda mudança importante de percepção se refere à maneira como medimos nossas necessidades. Quando exercitamos a percepção espiritual deixamos de encarar a vida com base em uma medida física–que nos faz ficar imaginando se teremos dinheiro, treinamento, relacionamentos, conhecimento e tempo suficientes e passamos a adotar uma base metafísica e espiritual em nossa vida. Com efeito, o nosso conceito de oferta e procura pode mudar, passando da busca por uma cota pessoal de recursos materiais incertos para o reconhecimento do que cada um de nós já possui: o legado imparcial de Deus, que inclui qualidades espirituais e as oportunidades para empregá-las. Esse tipo de riqueza não conhece limites, e Deus dá essas capacidades sem qualquer favoritismo.
A Mente divina concede sua própria natureza. Cada um de nós é mais do que simplesmente o objeto da concessão de Deus. Somos realmente a razão de Sua concessão, refletindo Sua inteligência, integridade, substância e bondade ilimitadas. Conseqüentemente, o patrimônio líquido de cada pessoa supera em muito o valor determinado por todos os métodos de aferição de riqueza.
Deus não pretende e nem poderia criar uma expressão de Seu próprio caráter que apresentasse algum tipo de insuficiência. Como o Apóstolo Paulo diz: “E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma cousa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus” (2 Cor. 3:4, 5). A raiz da palavra grega traduzida como suficiência significa: “competente; que chega na hora certa; abundante em quantidade e de caráter adequado”. A percepção de que nossas capacidades são “abundantes em quantidade” vem com a descoberta do que Deus é e do quanto Ele nos ama.
Entretanto, freqüentemente o caminho rumo a essa descoberta exige desenvolvimento espiritual, até mesmo renovação, para aprimorarmos nosso “caráter adequado”. Tomemos, por exemplo, dois irmãos famosos na Bíblia: Jacó e Esaú. A história deles é um poderoso exemplo de transformação de caráter e redenção espiritual; os dois homens foram modificados pelos desafios que enfrentaram (ver Gênesis, capítulos 25-33).
Quando Esaú e Jacó se reconciliam, um diz ao outro: “Eu tenho o suficiente” (conforme a versão King James). Aparentemente eles estão descrevendo suas posses. Mas na verdade, suas palavras estão reconhecendo o crescimento interior que tiveram. Não seria o ganho real de Jacó a substância da humildade e a disposição de servir e glorificar a Deus? E Esaú certamente ganhou as bênçãos do perdão e da graça. A melhoria no bem-estar humano dos irmãos refletia apenas fracamente seu verdadeiro valor para Deus.
As lições que Jacó e Esaú aprenderam, prenunciaram uma das mensagens centrais do Cristianismo: Busca a Deus e a tua própria identidade espiritual em primeiro lugar, e terás tudo o de que necessitas. Jesus sabia da necessidade humana de saúde, atividade satisfatória e um futuro seguro. Contudo, ele afastava de seus seguidores a preocupação com essas necessidades intrínsecas (e com todas as ansiedades que as acompanham), para que eles descobrissem o amor e o indubitável cuidado de Deus por eles. Jesus prometeu: “...todas estas coisas” (o suprimento abundante das necessidades diárias) “vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33).
Talvez seja da natureza humana querer apenas o “suficiente”. Porém, Deus já nos deu a superabundância, ou seja, uma fonte de idéias que nunca se esgota. Podemos confiar nessa Fonte. Buscar sua influência que renova e transforma nossa vida. Então, considerando o que realmente conta, poderemos dizer: “Eu tenho o suficiente”.
