De todos os lugares em que eu poderia ter nascido nesse mundo, acabei nascendo em uma família maravilhosa, em um belíssimo país. Quando era bem pequena, meus pais me mostraram os tesouros naturais e culturais do México: desertos majestosos, vulcões solitários cobertos de neve, matas vigorosas, florestas e lagos tranqüilos, rios turbulentos com surpreendentes tapetes de corais coloridos, além de imponentes locais pré-hispânicos e expressões variadas de arte, tradição e idioma.
Enquanto aprendia a amar e a respeitar o México e seu povo diligente, tomei conhecimento de contrastes e desigualdades sociais marcantes e de seus desafios ambientais. Observei que as pessoas que viviam e cuidavam das áreas naturais que visitávamos, ou seja, as que conheciam melhor a região, raramente eram consultadas quando o governo tomava decisões sobre a terra deles. Lembro-me que, quando eu era criança, certa vez fomos acampar em uma área preservada na praia. Fiquei muito preocupada quando os pescadores locais nos informaram que o governo iria reassentá-los nas montanhas, juntamente com suas famílias, para construir naquele lugar um elegante complexo turístico à beira-mar.
Foi por causa de acontecimentos como esse ocorridos na minha infância que, quando terminei o ensino médio, eu queria fazer algo que possibilitasse a outras pessoas o acesso às mesmas oportunidades que eu havia tido, bem como contribuir para uma utilização mais consciente de nossos recursos naturais. Quando terminei a faculdade de biologia nos Estados Unidos, voltei para casa. Não tinha nenhuma idéia do que fazer, mas estava certa de que Deus me indicaria a direção na qual meus talentos poderiam ser mais bem aproveitados. Logo, comecei a trabalhar para a TNC (“The Nature Conservancy”), uma organização internacional sem fins lucrativos. Como a missão dessa organização é “preservar as plantas, os animais, e as comunidades nativas que representam a diversidade de vida na Terra, pela proteção do solo e dos recursos hídricos que eles necessitam para sobreviver”, contribuo para a proteção dos tesouros naturais do México com meu trabalho. Também tenho a oportunidade de constatar como o uso eficiente de nossos recuros naturais afeta nossa vida de maneira positiva.
Nos últimos anos trabalhei com equipes de diferentes partes do México, ajudando-as a desenvolver projetos de conservação. Participam das reuniões de planejamento, que freqüentemente ajudo a organizar, pessoas que normalmente não interagem muito bem umas com as outras, como cientistas, funcionários do governo, grupos de organizações não governamentais, pescadores, chacareiros, fazendeiros e outros que utilizam os recursos naturais e culturais de uma determinada área. O objetivo disso é que perspectivas e necessidades diferentes sejam consideradas. Juntos estabelecemos uma idéia comum sobre o que uma área necessita para permanecer saudável e, ao mesmo tempo, atender às necessidades dos animais e dos seres humanos que lá se encontram. Em seguida, analisamos o que mudou e os efeitos da atividade humana sobre a terra ou paisagem marinha. Juntos estudamos como podemos promover ações sustentáveis e modificar as ações que não sintonizam com o bem-estar da área.
Normalmente, nossas reuniões são caracterizadas por um forte senso de camaradagem e muita alegria, mas elas também exigem trabalho duro, energia e habilidade para a manutenção da harmonia, na medida em que perspectivas diferentes e freqüentemente discordantes são apresentadas. A Ciência Cristã me fornece a base para esperar que essas reuniões sejam uma experiência positiva para todos, tão naturalmente como o fato de respirarmos. Com o meu estudo dessa Ciência aprendi que Deus é a única Mente, a fonte de toda inteligência e sabedoria. O reconhecimento de que somos todos parte de uma única Mente, independentemente dos interesses que cada um possa representar nessas conversas, faz com que a comunicação seja mais eficiente e a criatividade se desenvolva mais.
Em uma dessas reuniões, inicialmente o clima era de muita tensão. Os pescadores culpavam os fazendeiros que viviam na parte de cima do rio pelo fato de não haver camarão suficiente para a pesca, e a comunicação entre eles parecia difícil. Eu me apoiei neste pensamento de Ciência e Saúde: “Um conhecimento da Ciência do ser desenvolve as faculdades e possibilidades latentes do homem. Estende a atmosfera do pensamento, dando aos mortais acesso a regiões mais amplas e mais elevadas. Eleva o pensador a seu ambiente nativo de discernimento e perspicácia” (p. 128).
Embora o objetivo da reunião de planejamento fosse o de encontrar formas de se evitar o esgotamento recursos da bacia hidrográfica, incluindo suas florestas, recursos hídricos e viveiros de peixes e outras espécies aquáticas, eu também confiava que poderíamos nos comunicar eficazmente na busca de soluções. Ao final da reunião havia sido desenvolvido um forte senso de colaboração entre os participantes, sendo que os pescadores e fazendeiros, que pareciam não se entender no início, acabaram formando um grupo de proteção à bacia hidrográfica. Percebi que, quando as pessoas são verdadeiramente valorizadas, demonstram capacidades que nem elas nem seus pares conheciam. Quando conseguimos reconhecer reciprocamente qualidades divinas genuínas, como boa vontade e amor fraternal, obtemos resultados maravilhosos. Essas qualidades espirituais que refletimos de Deus são nossos maiores recursos naturais.
Certa vez, pesquisei a palavra recurso em um dicionário e encontrei estas duas definições: “algo com o qual se pode contar para apoio ou ajuda” e a “capacidade de lider com uma situação de maneira eficaz”. Pela Ciência Cristã compreendi que, quando confiamos nesses recursos espirituais, as soluções aparecem. À medida que compreendermos essa verdade espiritual poderosa, os recursos humanos de que necessitarmos, tanto individual quanto coleticvmente, tornar-se-ão visíveis para nós.
Um trecho de Ciência e Saúde me ajudou a ver com mais clareza que podemos colocar em prática fatos espirituais: “À medida que os mortais conseguirem conceitos mais corretos acerca de Deus e do homem, inumeráveis objetos da criação, que antes eram invisíveis, tornar-se-ão visíveis” (p. 264). Gosto de pensar que esses “objetos da criação” são expressões diversas da natureza, bem como os recursos que nós e todos os outros seres vivos precisamos na Terra, quer sejam água, ar puro, alimento, abrigo, fontes de energia ou qualquer outra coisa. Temos um suprimento ilimitado desses recursos porque sua fonte, Deus, é ilimitada. Contudo, o mundo parece nos dizer que, para um grupo ter êxito, os outros têm de ser condenados a uma existência de exploração, miséria e, no caso das culturas indígenas e de muitas plantas e animais, até mesmo à extinção. Em outras palavras, que o bem-estar e o acesso aos recursos são restritos a uma elite.
Cada um de nós pode fazer sua parte para ajudar a manter o meio ambiente saudável, ficando mais alerta à orientação constante do Amor divino em cada detalhe de nossa vida.
Entretanto, por que um Pai-Mãe Deus amoroso condenaria a maioria de nós, tanto seres humanos como os animais, a esse modelo absurdo e contraditório de opressão e extinção? A boa notícia é que não temos de aceitar esse modelo porque Deus é Amor, e Ele não favorece algumas de Suas idéias em detrimento de outras. A criação de Deus é completa e tem tudo o de que necessita para existir e florescer.
No meu entender, a maioria dos problemas ambientais que enfrentamos atualmente, ou seja, a perda de um habitat valioso devi-do a uma expansão mal planejada, os efeitos globais das mudanças climáticas e da poluição, entre muitos outros, evidenciam valores e ações incompatíveis entre pessoas de nossas diferentes sociedades. Cada um de nós pode fazer sua parte para ajudar a manter o meio ambiente saudável, ficando mais alerta à orientação constante do Amor divino em cada detalhe de nossa vida. Essa orientação nos faz respeitar a dignidade inerente a todo ser vivente.
O mais importante, porém, é que podemos usar os recursos naturais de inteligência e compaixão dados por Deus para solucionar questões ambientais difíceis. A Sra. Eddy nos dá esta garantia: “Não temos nada a temer, quando o Amor está ao leme do pensamento, ao contrário, temos tudo para nos regozijar na terra e no céu” (Miscellaneous Writings 1883— 1896, p.113).
Quando reconhecemos a verdade dessa declaração, podemos esperar sentir seus efeitos bons e poderosos em nosso meio ambiente natural, enfrentando qualquer desafio a partir de um nível mais elevado e espiritual, sob a perspectiva da Mente e do Amor divinos.
