O pai e a filha que relataram os acontecimentos abaixo solicitaram que seus nomes fossem omitidos devido à natureza delicada de sua história.
Era dezembro de 1982. Um telefonema de minha filha de vinte e dois anos me despertou no meio da noite. Naquela época, nossa família residia na cidade de Nova Iorque e minha filha havia ligado para dizer que fora presa por porte ilegal de drogas e colocada na prisão, em um outro distrito que ficava a alguns quilômetros de distância. Eu a consolei, da melhor maneira que pude, e lhe assegurei que estaria presente à sua audiência na manhã seguinte.
Durante a audiência, foi uma amarga experiência sentir-me totalmente incapaz de fazer algo, ao ver minha filha algemada como prisioneira, sendo conduzida ao tribunal, enfileirada e acorrentada a outros prisioneiros. Uma atmosfera de crueldade pairava na sala do tribunal. Os guardas iam e vinham pelos corredores e repreendiam aqueles que não estivessem sentados quietos e atentos ao que o juiz dizia. Parecia que nesse tribunal você era considerado culpado até provar sua inocência. Após o processo de indiciamento que durou quase o dia todo, minha filha foi solta, sob minha custódia.
Eu precisava contratar rapidamente um advogado na comunidade em que minha filha havia sido presa e seria julgada. Orar sempre havia sido natural para mim, principalmente em momentos de crise. Dessa vez, além de minhas próprias orações, achei que nossa família precisava da ajuda de um Praticista da Ciência Cristã, para quem eu liguei solicitando apoio espiritual durante todo o transcorrer dos acontecimentos subseqüentes.
Havia aprendido, pelo estudo da Ciência Cristã, que Deus é o Amor infinito, o Tudo-em-tudo, e que Ele é a única Mente. Minha oração e desejo profundos, nessa ocasião, eram de que essa Mente, que tudo sabe e que é infinitamente amorosa, me guiasse a encontrar o melhor advogado de defesa para o caso de minha filha. Ouviria atentamente o que a Mente divina me diria. Como resultado, fui levado a retornar com minha filha ao tribunal onde ela havia sido indiciada. Sentamo-nos no saguão do prédio para que pudéssemos observar os advogados locais entrando e saindo com seus clientes. Depois de várias horas de paciente espera, observação e atenção à orientação de Deus, nós dois notamos, ao mesmo tempo, um determinado advogado que atraiu nossa atenção. Falei com ele enquanto entrava no elevador, acompanhado de um de seus clientes.
Esse advogado provou ser a pessoa certa. Durante os oito meses seguintes, desde o indiciamento até o veredicto, nossa confiança no poder de Deus para governar toda essa situação foi testada diversas vezes.
O promotor acusou minha filha de delito "B"* ou crime em segundo grau que, de acordo com o tempo de prisão, estava na mesma categoria de homicídio culposo ou assassinato em segundo grau. Eu já havia participado de vários júris criminais na cidade de Nova Iorque, mas essa era a primeira vez que eu estava do outro lado do caso. O tratamento dado aos réus era de uma crueldade fora do comum, particularmente para uma ré primária, como minha filha. O promotor estava disposto a reduzir a acusação para delito "D"* (dezesseis anos de prisão), somente se minha filha se declarasse culpada e ajudasse os investigadores que a haviam prendido a levá-los ao "chefe dos traficantes". O problema era que, para ajudar esses investigadores, ela teria de perambular pelas ruas e bares de Manhattan, atraindo homens. Ela se declarou culpada, mas não os ajudou em nada.
Durante todo esse tempo, nós nos reuníamos regularmente com vários funcionários ligados ao tribunal que, invariavelmente, instavam-me a preparar minha filha para enfrentar o fato de que iria ficar um longo período na prisão. O juiz que daria a sentença tinha a reputação de ser rigoroso. Para mim, essa era a parte mais difícil da situação com a qual tinha de lidar. Imaginar que minha filha iria para a prisão era simplesmente impensável. Com o reconhecimento de que nenhum esforço pessoal de minha parte libertaria minha filha, e de que havia limites até para o que o melhor advogado poderia conseguir, volvi-me a Deus, de todo o coração, pedindo ajuda, porque achava que Ele era nossa única esperança.
A Bíblia nos diz: "Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas" (Provérbios 3:5, 6). Durante toda uma vida de estudo e prática da Ciência Cristã, eu havia testemunhado a verdade dessa afirmação na cura de doenças, de pesar, na busca por inspiração em minha profissão como designer de projetos de desenvolvimento urbano em larga escala e, como resultado, confiava no cuidado de Deus. Havia aprendido, desde a mais tenra idade, que Deus é Amor infinito, sem igual nem oposto e de que Deus é a única Causa e o único Criador, pois Ele criou o universo à Sua própria imagem. Conseqüentemente, um universo material conflitante e um pecador mortal não constituíam a verdade ou a realidade da criação e eram uma ficção a ser negada e rejeitada. Afirmei, especificamente, que minha filha era o reflexo pleno e perfeito de Deus e não uma pessoa vulnerável e pecadora. Como a imagem de Deus e como Sua filha, não poderia haver, da parte dela, nenhum impulso na direção de um comportamento pecaminoso e, da mesma forma, nenhum ódio ou crueldade da parte do juiz ou do sistema legal que pudessem separá-la do Amor divino. Essa era minha oração constante.
Chegou o dia da sentença. Quando o promotor e os guardas que a prenderam iniciaram suas recomendações sobre o tempo de duração da sentença, o juiz abruptamente os interrompeu e disse algo neste sentido: "Nos meus quarenta anos de magistratura, eu enviei para a prisão todo réu que foi condenado neste tribunal, tanto por um crime ou porque se declarou culpado por um crime. Desta vez, não acho que seja a coisa certa a fazer". Em vez disso, ele deu à minha filha cinco anos em liberdade condicional.
Rememoro freqüentemente essa experiência com profunda gratidão. O poder salvador do Amor divino provou ser capaz de influenciar a predisposição do juiz de impor uma sentença rigorosa e o impeliu a sentenciar minha filha de forma mais justa. Nenhuma influência externa ou da parte de terceiros, nem o código penal do estado, o promotor rigoroso, nem o juiz com seu histórico de condenações pesadas, conseguiram impedir que minha filha refletisse seu Pai-Mãe, Deus. Nem mesmo o medo de um pai pelo bem-estar de sua filha. Como Ciência e Saúde declara de forma triunfal: “O poder da Ciência Cristã e do Amor divino é onipotente. É, com efeito, adequado para obrigar a doença, o pecado e a morte a soltarem sua presa e adequado para destruí-los” (p. 412).
Reminiscências de uma filha
Lembro-me de que, quando meu pai chegou ao tribunal no dia da minha audiência, meu irmão mais novo estava com ele e chorava devido àquela situação. Eu sabia que havia deixado minha família arrasada e achava que não haveria nenhuma saída.
Crescera freqüentando uma Escola Dominical da Ciência Cristã, todos os domingos, até completar dezessete anos, quando nossa família começou a desmoronar. Minha mãe era uma concertista de piano talentosa, que se esforçava para construir sua carreira e eu tinha muito orgulho dela. Creio que, naquela ocasião, eu achava que eu era um empecilho para sua carreira e me odiava por isso. Portanto, saí de casa.
Depois que fui presa, lembro-me de ter implorado a Deus que me ajudasse. Nunca havia deixado de acreditar naquilo que havia aprendido na Ciência Cristã, ou seja, de que existe uma única Mente [Deus]. Portanto, muito embora não estivesse em meu melhor estado mental, devido ao uso de drogas, orava e, toda vez que pensava em Deus, sempre me sentia confortada, como se um cobertor macio estivesse me envolvendo.
A promotoria e os funcionários da condicional diziam que não havia nenhuma dúvida de que eu iria para a prisão. Sabia que havia realmente feito algo errado, mas queria ser tratada de forma justa. A prisão parecia ser uma condenação demasiado rigorosa. Nunca havia me metido em nenhuma encrenca anteriormente. Antes de ser sentenciada, meu pai foi muito bom comigo, me aconselhando e dizendo palavras de conforto. Sabia que ele estava orando por nós dois. Ele deveria receber um prêmio pelas qualidades paternais que expressou e por permanecer ao meu lado. Ele sempre dizia que, quando um filho entra em casa todo enlameado, nós não o mandamos embora, mas lhe damos um bom banho.
Ainda tive de lutar durante um longo tempo contra o vício das drogas, após a sentença de liberdade condicional, mas já não me identificava mais com elas. Ao longo do período de alguns anos, o vício e a forma negativa pela qual me via desapareceram, à medida que meu pai e eu orávamos juntos. Meu pai sempre deixou claro para mim, que nosso verdadeiro Pai-Mãe é Deus e que eu sou a imagem e semelhança dEle.
Minha mãe já faleceu, mas meu pai e eu ainda nos falamos pelo telefone todos os dias e conversamos sobre o que ambos lemos em Ciência e Saúde. Empenho-me ao máximo para praticar a Ciência Cristã. Isso é muito importante para toda a minha família, uma vez que agora eu mesma tenho de criar meus quatro filhos. A idéia que mais me ajuda é: “O Amor divino sempre satisfez e sempre satisfará a toda necessidade humana” (Ciência e Saúde, p. 494). É confortador saber que sempre serei cuidada por esse Amor.
