Gosto muito da Bíblia. Seus ensinamentos são muito profundos, úteis e válidos para os dias de hoje.
Uma das histórias que sempre me fazem refletir é a de Jacó, neto de Abraão, irmão gêmeo de Esaú. Ele era pacato e morava em tendas. Sua mãe, Rebeca, o amava muito. Porém, seu pai, Isaque, tinha predileção por Esaú, por ser ele um grande caçador.
Certa vez, Esaú, ao voltar de uma caçada enfraquecido de tanta fome, quis comer um ensopado feito por Jacó, que, aproveitandose da situação, trocou o cozido de lentilhas pelo direito do irmão à primogenitura.
Tempos depois, o pai, muito fraco, pediu a Esaú que lhe preparasse uma caça, para que ele a saboreasse e lhe desse a benção antes de morrer. Jacó, ajudado pela mãe, novamente usou de astúcia e, mediante fraude, obteve a bênção. Usando uma roupa do irmão, serviu ao pai cego uma comida preparada por Rebeca e foi, então, abençoado em lugar de Esaú. Essa atitude despertou a ira do irmão e Jacó, para não ser morto, precisou fugir para um lugar distante.
Chegando Jacó à terra de Labão, seu tio, passou a trabalhar para ele. Por amor a Raquel, filha de Labão, serviu ao tio por sete anos para poder se casar com ela. Houve um banquete e à noite Labão lhe deu a noiva. Na manhã seguinte, Jacó viu que não se casara com Raquel e sim com Lia, a irmã mais velha de sua amada. O tio o havia enganado. Por amor a Raquel trabalhou mais sete anos e só então pôde se casar com ela. Depois disso, Jacó ainda continuou trabalhando para Labão, que o enganou novamente, desta vez, nos negócios.
Por meio de fraude e mentira, Jacó conseguiu a bênção que fora prometida para seu irmão. Essa atitude só lhe trouxe problemas e sofrimento. Teve de fugir para longe e nunca mais viu a mãe. Para mim, como no pensamento de Jacó estavam presentes a fraude e o engano, esses aspectos continuaram afetando sua vida e o tornaram vítima deles.
Tal percepção a respeito da história de Jacó me fez ver que, muitas vezes, quando parece que somos vítimas dos outros ou de uma circunstância ruim, houve alguma falha ou fraqueza nossa que, de alguma forma, "cooperou" com isso, por não ter sido detectada antes. O conhecido "golpe do bilhete premiado", no qual é oferecido um bilhete de loteria, supostamente premiado, em troca de bem menos dinheiro, com pretexto de necessidades urgentes, é um exemplo de como o criminoso e a vítima são persuadidos pela ganância. Afinal, as pessoas que desejam "levar vantagem" são as que geralmente caem nesse golpe.
Existem outros golpes e práticas desonestas que nos dias de hoje são até corriqueiros. A falsificação de produtos, a pirataria de CDs e DVDs, os combustíveis adulterados, produtos em embalagens com peso menor que o indicado, fraude em relógios de energia e de água estão por toda parte. Qual é a motivação para a fabricação, a comercialização e o consumo ilegais? Provavelmente, a ganância, a ambição desenfreada, o desejo de ser popular e o medo à carência sejam algumas das causas que impulsionam atitudes fraudulentas. Qualquer fraqueza provoca vulnerabilidade, pois diminui a capacidade de avaliar bem a situação e pode tornar alguém vítima ou instrumento da desonestidade.
Em Ciência e Saúde, Mary Baker Eddy afirma que "a honestidade é poder espiritual. A desonestidade é fraqueza humana, que perde direito à ajuda divina" (p. 453). Jacó sofreu para aprender que não era preciso usar meios fraudulentos e desonestos para conseguir o bem. Mas, quando compreendeu melhor a Deus, mudou sua maneira de agir. Voltou para sua terra e se reconciliou com seu irmão, após grande luta consigo mesmo e sobre a qual disse: "...Vi Deus face a face, e a minha vida foi salva" (Gênesis 32:30).
Qualquer fraqueza provoca vulnerabilidade, pois diminui a capacidade de avaliar bem a situação e pode tornar alguém vítima ou instrumento da desonestidade.
Por meio do estudo e da aplicação dos ensinamentos da Ciência Cristã qualquer pessoa pode se fortalecer e se conscientizar de que, como filhos de Deus, o Espírito, todos somos espirituais, puros, perfeitos, completos e totalmente bons. Podemos ter certeza de que todos têm, por herança divina, inteligência e sabedoria para perceber e eliminar os pensamentos egoístas que induzem a atos indesejáveis ou desonestos. A bondade e a pureza fazem parte da identidade espiritual de cada um e constituem verdadeira proteção. À medida que se cresce espiritualmente, desenvolve-se a coragem moral que dá a força para corrigir o que precisa ser corrigido, quando necessário. Só assim é possível deixar de ser vítima, de enganar ou ser enganado: mantendo-se firme na compreensão de que a natureza de cada um é espiritual e alinhando o pensamento com a Verdade.
