Trabalho num instituto público, o Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), que, entre outras actividades, desenvolve políticas de luta contra as drogas nas áreas da prevenção, do tratamento e da reinserção junto a jovens e adultos.
Entre os princípios dessas actividades, se destaca o humanista, que se fundamenta no reconhecimento da plena dignidade humana das pessoas envolvidas no problema.
No verão passado o Instituto se mudou para novas instalações, localizadas numa zona residencial da cidade, próxima das principais saídas de Lisboa e do acesso ao aeroporto. Quando nos mudámos para lá, um dos comentários que ouvi com frequência foi “Agora vais estranhar!”, porque o local das instalações anteriores se situava em uma das áreas mais elegantes da cidade.
Contudo, eu não tenho estranhado o local. Nesta nova localização, o ar parece ser mais puro, pois as correntes de ar activas expulsam a poluição. Isso me faz lembrar de uma passagem de Ciência e Saúde: “As correntes calmas e fortes da verdadeira espiritualidade, cujas manifestações são a saúde, a pureza e a imolação do próprio eu, têm de aprofundar a experiência humana, até que se veja que as crenças da existência material não passam de insolente imposição, e que o pecado, a doença e a morte cedem o lugar, para sempre, à demonstração científica do Espírito divino e ao homem de Deus, homem este espiritual e perfeito” (p. 99).
À medida que fui conhecendo o novo local, apercebi-me de que muitos jovens, entre onze e dezesseis anos, frequentam vários estabelecimentos de ensino e aproveitam o tempo livre reunindo-se em alegres grupos. Mas, pela vivacidade que demonstram e as alegres tropelias que fazem pela rua, noto que algumas pessoas abanam a cabeça em silenciosa repreensão. Então, penso que esses jovens manifestam a promessa do bem, a qual Jesus revelou a todos: “...Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus” (Marcos 10:14).
Ao vê-los, por vezes me recordo da pergunta “Sabe onde está o seu filho?”, colocada no sítio da Polícia de Segurança Pública (PSP) e também em brochuras distribuídas aos pais e comunidade escolar pelo Programa Escola Segura, uma parceria do Ministério da Educação e da PSP.
É certo que a Polícia está a perguntar aos pais se sabem onde estão fisicamente os seus filhos, quem são seus amigos e companheiros e que locais frequentam. Entretanto, podemos ver os jovens sob um prisma mais espiritual, como filhas e filhos queridos de Deus, expressando sua terna relação com Ele.
Assim, é possível olhar para esses ruidosos grupos de jovens, que algumas vezes parecem intimidar com seus capuchos puxados para os olhos, como jovens independentes e responsáveis, sob a direção da sabedoria divina, guiados a administrar o dinheiro da semanada para o almoço, inspirados a exteriorizar alegre confraternização e a manifestar honestidade em transações comerciais.
Finalmente, quando penso no potencial de bem que há nesses jovens, me vem à memória um poema que Mary Baker Eddy escreveu:
“Com Teu amor vem nos guardar
Em doce união,
Qual aves que, a gorjear,
Num mesmo ramo estão”.
(Hinário da Ciência Cristã, 30)
Esses versos são reconfortantes para mim, pois me fazem sentir que podemos abraçar todos os filhos, os nossos e os dos outros, e os ajudar a crescer saudáveis e livres de temor, como homens e mulheres capazes de desenvolver todo o seu potencial.
