1-12 Para os discípulos, o cego de nascença lhes permitia fazer especulações teológicas, mas, para Jesus, aquela era uma oportunidade de expressar compaixão e o poder que Deus tem de curar.
A pergunta dos discípulos “...quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” baseavase na crença de que a enfermidade física e o sofrimento eram devidos ou ao pecado dos pais (Salmos 51:5 e Êxodo 20:5) ou ao do próprio homem, conforme a teoria de alguns rabinos, a qual admitia a possibilidade de uma criança pecar mesmo ainda estando no ventre materno.
Ao discorrer sobre a necessidade de se fazer a obra de Deus enquanto é dia, é possível que Jesus estivesse se referindo a um destes três pontos:
• ao período de luz, quando os homens e mulheres normalmente trabalham e à noite, quando dormem. Portanto, o Mestre os urgia a trabalhar logo, pois o período de claridade é de pouca duração;
• ao período de tempo em que ele estaria no mundo. Analogicamente, quem permanecesse com Jesus ficaria no âmbito do dia, da luz verdadeira, mas, aqueles que não o seguissem, permaneceriam nas trevas, ou seja, na noite.
• Jesus compara seu ministério à luz que ilumina um mundo tenebroso. Esse simbolismo se refere à sua crucificação, que já se aproximava. Jesus veio à terra com um tempo limitado para executar sua tarefa, representado pelo dia. A noite figurava a sua morte.
Pedir para que o cego se lavasse no tanque de Siloé foi uma forma de Jesus testar a fidelidade do deficiente, que acreditou e, por isso, foi curado.
A lavagem no tanque de Siloé representa o novo nascimento, representado pelo batismo cristão. Como a Fonte de Siloé significa Fonte do Enviado, e Jesus é o enviado de Deus, subentende-se que a água representa o Espírito Santo e que o cego de nascença nasceu de novo, desta vez, da água e do espírito.
13-34 O fato de a cura ter sido feita em um sábado, provocou a reação dos judeus e dos fariseus.
Para se certificar de que o rapaz era de fato cego de nascença, os fariseus convocaram seus pais para testemunhar. Afinal, casos de cegueira adquirida após o nascimento já haviam sido curados anteriormente, como o de Tobias, relatado no livro apócrifo que recebe seu nome. Contudo, a cegueira de nascença era considerada incurável.
Ao serem perguntados como o rapaz havia adquirido a visão, seus pais esquivaram-se de responder, por dois motivos:
• porque, de fato, eles não presenciaram o milagre.
• por medo de ressaltar a pessoa de Jesus e de serem considerados seus seguidores e, com isso, serem expulsos da Sinagoga. Certamente, foi mais cômodo para eles não se indisporem com os fariseus.
Os pais pedem que os fariseus interroguem diretamente o rapaz, que ultrapassara os 13 anos, pois, essa era a idade exigida pelas leis judaicas para testemunhar em um tribunal.
Três fatos ficam evidentes quando os fariseus interrogam o ex-cego:
• Houve uma cura realizada por Jesus, o que não foi aceito pelos fariseus, pois, para eles, alguém que violara a Lei do Sábado era pecador e nada tinha de Deus. Estavam certos de que o rapaz os estava enganando e ocultando deles certos aspectos do ocorrido, quando lhe dizem: “Dá glória a Deus! [não escondas nada, dize a verdade], nós sabemos que esse homen é pecador” (v. 24).
Sem se deixar intimidar, ele retruca, categoricamente: “Se [Jesus] é pecador, não sei; uma coisa sei [e ninguém pode contestar]: eu era cego e agora vejo” (v. 25).
• O rapaz mostrou coragem ao responder pela segunda vez à pergunta de como foi curado: “já vo-lo disse, e não atendestes... Porventura, quereis vós também tornar-vos seus discípulos?” A ênfase dada por ele ao empregar a palavra “também”, mostra, claramente, a ironia de sua resposta.
• A falta de sabedoria dos fariseus, quando dizem que não sabiam de onde Jesus era, querendo dizer que Jesus não viera de Deus. Isso deu ao ex-cego motivo para os chamar, sarcasticamente, de ignorantes e para que lhes desse uma lição ao dizer que era de se estranhar que homens tão doutos na Lei não soubessem de onde vinha Jesus, que fizera coisa tão notável. Então, o rapaz repete uma verdade difundida pelos judeus, a de que Deus não atende a pecadores, mas àquele que teme a Deus e pratica a Sua vontade.
Diante do excelente argumento do rapaz, os fariseus se viram encurralados, apelaram para a calúnia e declararam que ele havia nascido todo em pecado (v. 34). Depois disso, o expulsaram de sua presença.
35-41 Depois de tamanha firmeza do rapaz perante os fariseus, Jesus se apresenta para ele, que, prostrando-se, adora o Mestre.
Jesus falava por metáforas. É claro que não se referia à cegueira física, mas à espiritual. Por meio de uma cura física (curou, literalmente, um cego de nascença), transmitiu ensinamentos metafísicos. De fato, o ex-cego viu, pela primeira vez, a luz do dia e passou a ver a Luz da Vida, como Jesus confirma: “...Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (João 8:12). O que Jesus quis dizer é que aqueles que acreditassem em suas palavras e as seguissem, deixariam de viver nas trevas do pecado e de serem cegos. Passariam a enxergar a luz do Cristo e se tornariam livres.
Bibliografia:
Dicionário da Bíblia, John D. Davis, tradução do Rev J.R. Carvalho Braga, 2002, 22ª edição, Editora Hagnos, São Paulo, SP, Brasil; O Novo Dicionário da Bíblia, J. D. Douglas, vol I a III, 1981, 4ª edição, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova; A Commentary on the Holy Bible by Various Writers edited by The Rev J. R. Dummelow M.A, 1978, Macmillan Publishing Co., Inc. New York, USA; A Bíblia Sagrada Antigo e Novo Testamento, tradução de João Ferreira de Almeida, 2001, 2ª edição, Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri, SP, Brasil; www.gospelcom.net/ibs/bibles; The Christian Science Journal, p. 49, 9/2004, The Christian Science Publishing Society, Boston, MA, USA.
