Quando os adultos pensam na infância, em geral, relacionam-na com alegria, brincadeiras, sonhos e ausência de preocupações. Mas esse não é o quadro completo. Um lado nada brilhante da infância é o medo, o medo do desconhecido, o medo das coisas que a criança não consegue entender (e essas são muitas).
Era esse o estado de ânimo mais comum para mim, na infância, até que conheci a Bíblia e, com ela, o poder de Deus, o poder do bem. Na Bíblia, encontrei personagens que venciam o medo sistematicamente, como os dois exemplos a seguir. Moisés havia fugido do Egito com medo, após matar um egípcio; no entanto teve a coragem de voltar para lá a fim de exigir do faraó a libertação do povo hebreu. Elias havia escapado com medo da rainha Jezabel que prometera matá-lo. Mas, pouco depois, retomou sua missão de profeta, junto a reis e alunos.
O que levou esses homens a dar uma guinada e lograr a vitória sobre o medo? Foi o encontro com Deus. Junto à sarça ardente, Moisés teve uma percepção mais clara de Deus como o EU SOU (Êxodo 3). Elias compreendeu melhor a Deus com a experiência no monte Horebe (1 Reis 19). Com a leitura da Bíblia, eu também pude encontrar a Deus, ainda na minha infância. Foram os sucessivos encontros com o Pai, na Bíblia, que me ajudaram a ir vencendo o medo daí por diante, qualquer que fosse minha idade.
Assim como esses encontros foram possíveis para mim, já na infância, eles são possíveis para todos, em qualquer idade. A Bíblia pode ser um valioso instrumento para isso, da mesma forma que o foi e ainda é para mim.
Alguns veem as Escrituras como a história do povo hebreu. Outros as prezam como a história que deu origem ás três grandes religiões ocidentais: judaísmo, cristianismo e islamismo. Como tal, o livro se refere ao passado. Mas, essa grande obra é muito mais do que isso. Nela, podemos encontrar a trajetória e o aprendizado de pessoas que, levando uma vida comum, buscaram a Deus, procuraram entendê-Lo, conhecê-Lo, senti-Lo e, em certa medida, conseguiram. Além disso, deixaram o relato, oral ou escrito, de sua experiência. Como tal, esse livro se refere ao presente, pois fala a cada um de nós.
No Antigo Testamento, podemos acompanhar os dilemas enfrentados por Abraão e como ele foi descobrindo um Deus que não era um mero astro do firmamento nem era identificado com nenhuma estátua, ao contrário do que pensavam os caldeus, seu próprio povo. Essa paulatina descoberta de Deus pautou e abençoou sua vida. O mesmo pode ser dito de Jacó, José, Gideão, Jó, e toda a “grande nuvem de testemunhas”, como a eles se refere o autor da carta aos Hebreus (ver Hebreus 12:1).
Cada um deles teve seus encontros com Deus e, se examinarmos os relatos partindo desse ponto de vista, tiraremos lições valiosas para os dias de hoje, para nossos próprios encontros com Deus, com Seu amor, com Sua proteção, com Sua perfeição e poder espiritual. Não estamos falando de encontros místicos nem de visões sobrenaturais, mas de momentos de compreensão espiritual, nos quais sentimos o conforto de sermos amados por nosso Criador, percebemos Sua proteção, vemos a harmonia de Sua criação.
O ponto máximo desse encontro com Deus, sem dúvida, está relacionado a Cristo Jesus, que O chamava de Pai. As obras e ensinamentos do Mestre constituem o fulcro do Novo Testamento. Jesus foi quem melhor conheceu a verdadeira natureza de Deus. Com base nessa compreensão, o Mestre sabia que o Pai era perfeito e, portanto, havia criado o homem perfeito: “Sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”, disse ele (Mateus 5:48). Compreendendo essa perfeição universal e eterna, Jesus sentia-se tão próximo do Pai, que curava a doença e anulava a morte.
A Fundadora desta revista, Mary Baker Eddy, profunda estudiosa da Bíblia, deu-se conta de que nas Escrituras como um todo, e nos ensinamentos e obras de Jesus principalmente, havia a revelação de leis espirituais, válidas e aplicáveis a todas as épocas e a toda a humanidade. Leis divinas que regem o universo de forma harmoniosa e em perfeito equilíbrio, e esse universo inclui o homem. Ela chamou essas leis de “Ciência divina” e explicou a mensagem espiritual contida na Bíblia em seu livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras. A Sra. Eddy comentou: “A Ciência divina, ensinada na linguagem original da Bíblia, veio por inspiração e necessita de inspiração para ser compreendida. Daí a má compreensão quanto ao significado espiritual da Bíblia e, em certos casos, a interpretação errada da Palavra, por escreventes não inspirados, os quais só escreveram o que um mestre inspirado havia dito” (p. 319).
Às vezes, as pessoas ficam confusas ou incomodadas com muitos dos trechos bíblicos, no Antigo Testamento, que retratam um Jeová vingativo e terrível, amedrontador e parcial em Suas preferências. Temos de lembrar que “escreventes não inspirados” registraram suas próprias crenças em um Jeová feito à semelhança dos diversos deuses adorados pelos povos vizinhos. Sempre havia a tentação, não só de adorar outros deuses, mas também de pensar no Deus de Israel como se Ele tivesse as mesmas características dos deuses dos outros povos, e fosse apenas mais poderoso.
Essas crenças e opiniões se infiltraram e permanecem entremeadas no texto inspirado. Nada, porém, pode obscurecer o verdadeiro Deus, o Pai amoroso de que Jesus falava, e que nós podemos encontrar na Bíblia toda, do Gênesis ao Apocalipse. A Bíblia está aí, caro leitor, em cima de sua mesa ou em algum de seus aparelhos eletrônicos. Portanto, desejo-lhe muitos encontros com Deus!*
