Há alguns anos, minha filha adolescente saiu para passar uma noite na floresta, como parte de um programa de treinamento de liderança de um acampamento de verão para Cientistas Cristãos. Os jovens levavam em suas mochilas um lanche, água, lanterna, fósforos, roupas, a Bíblia e o livro Ciência e Saúde, e se dirigiam até um lugar isolado, próximo ao acampamento. A tarefa era construir um abrigo com arbustos e galhos de árvores e acender uma fogueira; tarefas essas para as quais haviam recebido treinamento. Então, passavam a noite em contemplação, orando e apreciando a beleza natural ao redor deles.
Trabalhando como “mãe do acampamento” naquele verão, pude observar muitos jovens, inclusive meu filho, saírem apreensivos e retornarem ao acampamento na manhã seguinte com confiança e alegria. Em várias ocasiões, tivera o privilégio de compartilhar ideias metafísicas apropriadas ao momento com os adolescentes, durante os preparativos dessa aventura, e orado por eles durante a noite. Depois, os campistas contavam como haviam orado para eliminar o medo com relação a animais, tempestades, escuridão, bem como pelo fato de estarem sozinhos, aprendendo assim a confiar no consolo e cuidado de Deus. Essa era uma oportunidade para crescimento espiritual e agora, finalmente, chegara a vez da minha filha!
Mas, por que me senti tão apreensiva quando ela saiu para passar a noite fora? Muitos adolescentes haviam participado com segurança desse programa muito bem planejado. Compreendi que precisava confiar inteiramente essa pessoa, que eu considerava ainda como “minha” garotinha, a Deus. Ao longo dos anos de crescimento de minha filha, meu marido e eu havíamos nos volvido muitas vezes a Deus, em oração, por ela e pelos outros filhos, e encontrado cura e bem-estar, tanto físicos quanto emocionais. Desde lesões no joelho e no tornozelo, um osso quebrado que não havia sido encaixado corretamente no molde de gesso, um corte profundo decorrente da queda de uma árvore, gripe, resfriados, diminuição de audição, distúrbios estomacais e dificuldades de relacionamento com amigos haviam sido curados, de forma completa e maravilhosa, por meio da oração embasada na Ciência Cristã.
Encontrei uma extraordinária lição na história do bebê Moisés e sua mãe, a qual consta do segundo capítulo de Êxodo
Sempre havia orado pelos meus filhos, mas não deixava de estar presente como mãe, para consolar e apoiar. Na verdade, percebi que era exatamente esse papel de “mãe” que agora me incomodava. Desejava, é claro, orar por minha filha. Mas, não queria deixar de participar como consoladora, secadora de lágrimas e incentivadora. Portanto, perguntei a mim mesma, se realmente achava necessário estar sempre presente com minha filha, para que ela fosse consolada. Será que eu realmente precisava estar lá em pessoa, a fim de garantir a segurança dela? Estaria eu tentando desempenhar o papel de Deus?
Naquela noite, enquanto me debatia com essas questões, encontrei uma extraordinária lição na história do bebê Moisés e sua mãe, a qual consta do segundo capítulo de Êxodo. Essa narrativa é constituída por apenas alguns versículos, e os estudei atentamente. Enquanto o povo hebreu era escravo no Egito, o faraó ordenou que todos os meninos hebreus recém-nascidos fossem afogados no rio. Nessa ocasião, uma “filha de Levi” deu à luz um menino e esse menino era Moisés. Por conseguinte, a mãe protegeu a criança, escondendo seu “filho formoso” durante três meses após seu nascimento (ver Êxodo 2:1, 2). Então, chegou a hora em que ela já não podia mais escondê-lo. A mãe de Moisés teve a ideia de construir para seu bebê um pequeno bote, feito com um cesto de junco. Ela colocou o cesto no rio, próximo ao local onde a filha do Faraó se banhava com suas criadas e, quando as mulheres encontraram o bebê, a irmã mais velha de Moisés, que permanecera por perto, ofereceu-se para achar uma ama para a criança. Tudo funcionou muito bem. A mãe de Moisés foi contratada para cuidar da criança e, assim, conseguiu criar seu próprio filho na casa do Faraó (ver Êxodo 2:3-10). Todos nós já sabemos que Moisés mais tarde guiou o povo escravo de Israel rumo à Terra Prometida, mas, naquele momento, Moisés era apenas um bebê em perigo.
Deus não precisava de mim como intermediária, pois minha filha estava nos braços do Amor
Tentei imaginar o que a mãe de Moisés estaria pensando e sentindo naqueles momentos. Ela com certeza utilizou suas melhores habilidades ao preparar cuidadosamente aquela pequena arca, tornando-a impermeável ao revesti-la com betume e piche. Imaginei-a segurando seu querido filho bem junto ao peito, beijando-lhe a cabeça ao colocá-lo no cesto de junco. Mal conseguia respirar enquanto pensava no momento inevitável em que essa mãe amorosa precisou retirar sua mão daquele pequeno cesto e dar um passo para trás. O bebê teria de flutuar sozinho. E se uma cobra ou um animal do rio pegasse o bebê? E se o bebê começasse a se mexer e virasse o cesto? E se o cesto virasse, poderia a mãe chegar a tempo de salvar o pequenino de se afogar?
Onde a mãe de Moisés encontrou coragem para retirar sua mão e deixar o cesto flutuar sozinho?
Por meio da fé no amor do Deus único por aquela criança, será que ela sabia, no fundo do coração, que Deus garantiria o bem-estar daquele pequenino? Ela realmente retirou a mão do cesto e seu filho ficou absolutamente seguro.
Naquela noite de verão, sabia que havia chegado a hora de recuar completamente e compreender que minha filha não precisava da minha presença de “mãe” em sua aventura na floresta, porque ela estava na presença de Deus, o Amor divino. Ambas estávamos! Deus a consolaria, a encorajaria e a protegeria. Ela podia contar com as qualidades maternais de Deus e, consequentemente, eu também podia. Recusei-me veementemente a aceitar um falso senso de responsabilidade pelo bem-estar dela. Percebi claramente que Deus não precisava de mim como intermediária. Minha filha estava nos braços do Amor, portanto, ela certamente podia sentir o consolo de Deus, mesmo quando a mãe humana não estivesse presente. Assim como a mãe de Moisés havia demonstrado, nada poderia interferir no cuidado da Mãe divina por Sua filha. Regozijei-me nessa nova compreensão da maternidade de Deus.
Na manhã seguinte, enquanto esperava minha filha sair da floresta, provavelmente toda suja de lama, mas muito feliz, sabia que nós duas havíamos aprendido a nos apoiar plenamente no Amor!*
Artigo originalmente publicado na edição de 28 de junho de 2010 do Christian Science Sentinel.
