Certa vez, senti uma súbita inspiração quando li que Mary Baker Eddy frequentemente dizia a um ou outro de seus alunos: “Agora, lembre-se daquilo que você é” (We Knew Mary Baker Eddy [Nós Conhecemos Mary Baker Eddy], 1979, p. 203). Era uma instrução concisa e, sem dúvida, profunda para que mantivéssemos a perspectiva sobre nós mesmos como a imagem e semelhança de Deus.
Levando-se em conta o fato de que a Sra. Eddy escolhia suas palavras de forma extremamente meticulosa, eu sabia que, em algum lugar nessa frase, havia uma verdade para ser revelada. Notei que ela não dissera: “Lembre-se de quem você é”. Portanto, minha ponderação foi: Qual a diferença entre “quem” e “o que”? Por que ela não disse “quem”? Estaria ela suprimindo o meu “eu”? Afinal, não pensava eu sobre mim mesmo como “alguém”? Alguém com um corpo físico, com várias opiniões definitivas que eram armazenadas em uma “mente” que constituía minha personalidade? Se eu realmente abrisse mão desse senso humano de mim mesmo, o que seria de mim?
Mas, espere um pouco. O Apóstolo Paulo disse: “...se um homem julga ser alguma cousa, quando ele é nada, ele está enganando a si mesmo” (Gálatas 6:3, conforme a versão King James). Não poderia ser que a sensação de ser uma pessoa separada de Deus fosse aquele mesmo “homem” a que Paulo estava se referindo? Eu não desejaria enganar a mim mesmo. Em Ciência e Saúde, Eddy nos advertiu: “Esse pensamento acerca da nulidade material humana, que a Ciência inculca, enfurece a mente carnal e é a causa principal do antagonismo dessa mente” (p. 345). Ficar enfurecido ou antagônico diante dessa compreensão estava fora de questão estava fora de questão para mim, porque isso seria concordar com a mente carnal, em vez de obedecer à ordem de Paulo: “Tende em vós a mesma mente que havia também em Cristo Jesus” (Filipenses 2:5, conforme a versão King James). Jesus certamente não exaltava o conceito de uma pessoa material, ele mantinha na consciência Deus e Sua imagem espiritual, o “homem” real.
Se eu sou uma expressão de Deus, a Mente única, então sou o reflexo da Mente única. Isso para mim é um “o que” e não um “quem”. Se eu penso sobre mim mesmo como uma pessoa separada de Deus, eu sou o “nada” sobre o qual Paulo estava falando. Mas, como uma emanação da Vida e do Amor infinitos, expresso tudo o que a vida e o amor incluem, ou seja, tudo. Não seria isso o que Tiago estava sugerindo na Bíblia, quando perguntou: “De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne?” (Tiago 4:1). As opiniões, desejos e motivos humanos de uma pessoa, são inteiramente diferentes dos das outras pessoas, e é isso o que causa divisões entre nós, resultando em egoísmo, desonestidade, ganância, desastres financeiros e guerras. Ao passo que afirmar nossa união, nossa unidade com Deus, unos com a Mente, a “Pessoa infinita” (ver Ciência e Saúde, p. 116), frequentemente pode melhorar e, até mesmo, anular essas condições negativas.
Claro que usamos a palavra quem muitas vezes na vida diária, mas também temos uma grande necessidade de ir além dela, ou de romper os grilhões da crença de estarmos separados de Deus. Precisamos elevar nossa voz para vencer o complô do pensamento sedicioso, pecaminoso e serpentiforme que nos mantém como pessoas mortais entronizadas.
Conquanto nos esforcemos para não nos vermos como um “quem”, essa é uma boa oportunidade para não fazermos de Deus um “quem” também, pois esse é o grande erro dos séculos. Pensar em Deus como uma espécie de ser humano magnificado limita, de forma flagrante, não apenas a Mente única, mas toda a criação da Mente. Entretanto, quando perguntamos: “O que é Deus?”, abrimos o pensamento para possibilidades ilimitadas e podemos começar a compreendê-Lo como Mente, Espírito, Alma, Verdade, Vida, Amor, Princípio. Isso permite que uma torrente de liberdade recompensadora inunde a consciência, pois compreendemos a infinitude de nosso Criador, e nós mesmos incluídos nessa infinitude, percebendo essa eterna-presença sob a forma de um amor espiritual extremamente abundante, de uma verdade fidedigna, além de uma fé sólida e íntima. Isso proporciona ao homem “...o alcance infinito do pensamento” (Ciência e Saúde, p. 258) e desencadeia um senso muito maior da nossa própria identidade e individualidade.
Certa noite tive todos os sintomas de uma forte gripe e me senti muito indisposto. Como era meu costume, volvi-me à minha Bíblia e ao livro Ciência e Saúde em busca de cura. Estivera refletindo que todos os nossos problemas provêm do fato de que pensamos a partir da base de uma pessoa “humana”, que entretém falsas crenças e concepções errôneas e equivocadas sobre nós mesmos e os outros sem, muitas vezes, nos dar conta disso. Naquela noite, em minhas orações neguei para mim mesmo que esse eu fosse uma criatura material (um “quem”), uma vez que sou uma ideia espiritual de Deus (um “o que”). Uma vez que Deus, o Amor infinito, é Tudo, está em toda a parte e possui todo o poder, então, se um “quem” é o nada, isso significa que a doença também é o nada. Sua aparente presença é, em realidade, uma ausência.
Não tentei imaginar o que exatamente estava errado ou o que estava causando o problema, nem qual seria o bom pensamento espiritual que eu precisava para “consertar” o problema. Tal como afirma Ciência e Saúde: “O que adianta investigar aquilo que erroneamente se chama vida material, que acaba, tal como começa, no nada sem nome? O sentido verdadeiro do ser e da sua perfeição eterna deve aparecer agora, assim como aparecerá depois, no além” (p. 550). Fui para a cama, dormi serenamente a noite inteira e, quando acordei na manhã seguinte, a gripe se fora. O reconhecimento do “o que” do ser do homem destruiu o “quem” que tentava me enganar.
Gosto muito do fato de que em sua afirmação mencionada acima: “Agora, lembre-se daquilo que você é”, Eddy usou o termo lembre-se, o qual é sinônimo de “lembrar-se a si mesmo”. Portanto, a cada momento podemos lembrar a nós mesmos da grande verdade do nosso terno relacionamento com Deus e da inteireza do nosso ser. Ela também não disse: “Lembre-se do que você deveria ser”, ou “do que você desejaria ser”, ou ainda “do que você será após ter sua cura”. Ela disse: “Agora, lembre-se daquilo que você é”.
Agora mesmo e sempre somos perfeitos, tal como o Princípio divino é perfeito. Temos o domínio sobre todas as coisas!*
Artigo publicado originalmente em The Christian Science Journal de novembro de 2011.
