Cresci ouvindo histórias da Bíblia em casa e na Escola Dominical, e gostava muito das lições práticas e do alimento espiritual contidos nelas. Mas, só comecei realmente a entender os desafios enfrentados e os triunfos conseguidos por aqueles extraordinários personagens quando fiz dois cursos sobre a Bíblia na faculdade. Quanto mais aprendia sobre a cultura, a geografia, a religião e a política daqueles tempos, mais eu apreciava os acontecimentos por trás das histórias que ouvira e lera desde criança.
Meus cursos de religião, juntamente com especialização em perspectivas mundiais e comunicação social, ajudaram a abrir meus olhos para o impacto da Bíblia no mundo de hoje. Durante os doze anos desde que terminei a faculdade, já viajei, estudei, trabalhei e morei em aproximadamente 20 países. Essas experiências têm sido especiais, desafiadoras e recompensadoras. Embora ainda queira visitar Israel, Egito, Iraque ou outras terras da época bíblica, minha vivência no exterior têm me proporcionado uma perspectiva mais ampla sobre a diversidade dos povos, do meio ambiente e das oportunidades no mundo.
Certo dia, veio-me à mente que minha resposta talvez estivesse exatamente ali, na soleira da minha própria porta
Dezesseis meses após minha formatura na faculdade, fui para Moçambique a fim de servir como voluntário na Brigada de Voluntários da Paz. Quando cheguei, em outubro de 2001, de imediato fiquei impressionado com o senso de comunidade que fez com que me sentisse bem-vindo e acolhido, senso que era muito diferente do que eu estava acostumado. Durante mais de dois anos e meio que passei em Moçambique, desfrutei da hospitalidade de pessoas que desconhecia e de refeições em seus lares, participei de vários momentos agradáveis com os vizinhos e fiz grandes amigos. Não era necessário viajar até o outro lado da cidade ou fazer uma chamada de longa distância para pedir ajuda, para conversar ou me divertir; precisava apenas sair de casa e as pessoas ficavam felizes em deixar de lado o que estavam fazendo para passar algum tempo comigo. Ressoava em minha mente esta amada passagem da Bíblia: “Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes” (Mateus 25:35).
Desde a época que passei em Moçambique, tenho vivido em outros países e em diferentes regiões dos Estados Unidos, mas nunca mais senti aquele senso único de comunidade, aquele modo atencioso de inclusão e compartilhamento com os outros. Certo dia, veio-me à mente que minha resposta talvez estivesse exatamente ali na soleira da minha própria porta, ou na soleira da porta da igreja filial da Ciência Cristã em Beaverton, Oregon, EUA, da qual eu era membro, e onde havia crescido. Eu passara tanto tempo vivendo, trabalhando e sendo voluntário em outros lugares, que havia negligenciado minha própria comunidade da igreja, a qual, em uma análise retrospectiva, deveria ser o grupo de pessoas mais importante para mim. Que melhor lugar para causar um impacto positivo no mundo do que em um grupo de pensadores espirituais, que oram e trabalham diariamente para a concretização de um mundo mais pacífico, justo e habitável!
É também recompensador poder oferecer a experiência que adquiri de servir aos outros, tanto em meu país como no exterior, para ser aproveitada quando nossa igreja está em busca de outras maneiras de se envolver com a comunidade
Após ter reconsiderado meu papel, em espírito de oração, compreendi que não seria suficiente apenas aparecer nos cultos da igreja; precisava apoiar e acolher mais ativamente a comunidade da minha igreja. Assim que manifestei meu interesse e satisfação em me envolver mais, surgiram muitas oportunidades de servir tanto nas comissões da igreja, quanto de outras maneiras, e estes versículos da Bíblia traduzem isso perfeitamente: “Se vocês obtiveram algo por seguir o Cristo, se seu amor tem feito alguma diferença na vida de vocês, se pertencer a uma comunidade do Espírito significa algo para vocês, se vocês têm sentimento e se importam com os outros, então me façam um favor: concordem uns com os outros, amem uns aos outros, sintam profunda amizade uns pelos outros. Não procurem seus próprios interesses em detrimento dos interesses dos outros, nem busquem a bajulação para se sentirem superiores aos outros. Coloquem seu ego de lado e ajudem os outros a seguir em frente. Não fiquem obcecados por obter sua própria vantagem. Esqueçam de si mesmos o suficiente para estender a mão para ajudar” (Filipenses 2: 1–5, The Message [A Mensagem]).
Quase três anos após ter desejado sinceramente me envolver mais com minha igreja, dei aulas na Escola Dominical, trabalhei como bibliotecário na Sala de Leitura, compartilhei minhas próprias curas nas reuniões de testemunhos das quartas-feiras, e servi como voluntário na divisão local do programa “Discovery Bound” (programa que inclui Cientistas Cristãos e seus amigos e que visa a reforçar, durante o ano todo, a inspiração que as crianças e jovens desfrutam nos acampamentos da Ciência Cristã, durante o verão). Foi também recompensador poder oferecer a experiência que adquiri de servir aos outros, tanto em meu país como no exterior, para ser aproveitada quando nossa igreja estava em busca de outras maneiras de se envolver com a comunidade. O que eu realmente gosto é do interesse dos meus colegas membros em se envolverem com as comunidades onde estamos localizados e servir as pessoas de maneiras práticas e com o amor embasado na Bíblia.
Durante dois anos, nossa igreja filial realizou reuniões inspirativas mensais para os membros da igreja e frequentadores regulares, a fim de analisarmos a leitura que estávamos fazendo de Ciência e Saúde. Após termos concluído essa tarefa, nós nos reunimos para pesquisar formas de nos tornarmos mais envolvidos com os outros, para “fortalecer nossa missão da cura pelo Cristo”, conforme colocado em nosso anúncio aos membros e frequentadores da igreja. “Por meio desse estudo, desejamos continuar a cuidar internamente de nossa congregação e externamente abranger a comunidade mais ampla.”
Tudo o que pedíamos era que as pessoas lessem os capítulos propostos e viessem preparadas para compartilhar o que assimilaram e como achavam que essas passagens poderiam revitalizar sua própria vida e a vida da nossa comunidade
Havíamos estabelecido o objetivo de, entre abril de 2010 e março de 2011, ler e pesquisar juntos, os livros de Atos até Judas, no Novo Testamento, bem como as cartas e mensagens de Mary Baker Eddy às primeiras igrejas da Ciência Cristã, as quais constam dos livros Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, e The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Vários Escritos]. Também convidamos amigos e vizinhos a se juntarem a nós nesse estudo.
No início, consideramos realizar as reuniões em nossa Sala de Leitura, próxima da igreja, para torná-las mais acessíveis aos não-membros da igreja, mas então decidimos que não haveria espaço suficiente. Portanto, passamos a nos reunir no saguão de nossa igreja. Cada reunião dura uma hora. Tudo o que pedimos é que as pessoas leiam os capítulos propostos e venham preparadas para compartilhar o que assimilaram, e como elas acham que essas passagens poderão revitalizar sua própria vida e a vida de nossa comunidade. Os coordenadores de diferentes comissões conduzem cada reunião e eles selecionam os trechos para a leitura de abertura e a oração de encerramento. Até agora, já realizamos seis reuniões, com até 25 participantes em cada uma delas e, muitas vezes, incluindo pessoas que não são membros da igreja.
Um participante entusiasta comentou: “Acho que nossa busca individual por compreensão espiritual e sua aplicação às situações humanas que enfrentamos, é como servir ao nosso Pai-Mãe Deus. Qualquer pessoa que se empenhe em conhecer a verdade e aplicá-la, de modo prático, apreciaria muitíssimo conhecer os ensinamentos do Apóstolo Paulo de que a verdade e o bem nos advêm de forma ilimitada, diretamente da mente do Cristo”.
Agora compreendo melhor como é essencial conhecer a Bíblia e descobrir maneiras de aplicar suas verdades atemporais a cada aspecto da vida
Outra pessoa disse: “O propósito de Paulo era mudar o foco e os objetivos de seus ouvintes. Ainda estou aprendendo o que isso realmente significa”.
Tenho de admitir que essa fora a primeira vez em que lera de forma consecutiva esses livros no Novo Testamento. Mas o que mais me agrada é que adquiri uma apreciação e um contexto surpreendentes pelas passagens que estava acostumado a ouvir desde a infância, como também por todo tipo de inspiração que esses textos continham e que nunca havia notado. Achei particularmente inspirador e informativo aprender mais sobre a transformação de Paulo, sua compreensão a respeito de Cristo Jesus e seu incansável empenho em difundir o cristianismo. Isso também me mostrou como é importante conhecer melhor os membros da minha própria igreja e entrar em contato com pessoas de outras tradições religiosas.
Esse estudo, promovido pela nossa igreja, ajudou a revitalizar a Bíblia para mim. Não planejo fazer cursos bíblicos academicamente, mas agora compreendo melhor como é essencial conhecer a Bíblia e descobrir maneiras de aplicar suas verdades atemporais a cada aspecto da vida. Não é de admirar que Mary Baker Eddy escolheu esta simples declaração como o primeiro artigo de fé da Ciência Cristã: “Como adeptos da Verdade, tomamos a Palavra inspirada da Bíblia como nosso guia suficiente para a Vida eterna” (Ciência e Saúde, p. 497).*
Artigo originalmente publicado no Christian Science Sentinel de 15 de novembro de 2010.
