Tive a oportunidade de visitar a fazenda de meu tio, na África do Sul, por dois meses. Durante esse período, soube que os funcionários da fazenda jogavam futebol semanalmente contra o pessoal de fazendas vizinhas. Perguntei se eu poderia jogar com eles algum dia, mas responderam rapidamente que não, que não seria possível.
Mais tarde, um dos homens me explicou que eles queriam que apenas as pessoas das etnias Xhosa e Zulu participassem — não era nada pessoal, mas eles não se sentiam à vontade comigo participando. Meu primo disse que eu fora excluído por ser branco; eles consideravam esse jogo de futebol como algo deles, que não precisavam compartilhar com os brancos ou com a família do chefe.
Como eu conhecia os antecedentes da desigualdade racial na África do Sul, a explicação que meu primo deu, do que estava por trás da minha exclusão, fez-me sentir muita compaixão. Eu queria mostrar aos funcionários o tipo de pessoa que eu realmente era e vi que tinha de seguir a Regra Áurea: tratá-los da mesma forma como eu queria ser tratado. Empenhei-me em continuar a tratá-los com respeito. Eu sabia que isso ajudaria a remover qualquer rótulo que me fosse atribuído, assim como qualquer rótulo que os funcionários pudessem ter aplicado a si mesmos.
A Oração do Senhor sempre me ajudou muito, quando orei para resolver situações que envolviam preconceitos, não importa de que tipo. Jesus apresentou essa Oração à sua audiência, dizendo: “Portanto, vós orareis assim” (Mateus 6:9). Para mim, essa introdução significa: “Orai com esta atitude — o espírito por trás das palavras”. Então, por exemplo, no verso de abertura: “Pai nosso, que estás nos céus”, parte do significado, para mim, é que precisamos estar dispostos a aceitar que no Cristo, a Verdade, a família do homem é uma — nós somos todos um com o Pai.
A interpretação espiritual que Mary Baker Eddy dá da Oração do Senhor, em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras,traz uma luz ainda maior a esse primeiro verso da oração. Ela escreve: “Nosso Pai-Mãe Deus, todo-harmonioso”(p. 16).
Deus é nosso Pai e Mãe, e esse Pai-Mãe perfeito nos conhece como sendo espirituais e nos mantém na harmonia celestial.
Se Deus é “todo-harmonioso”, então como filhos de Deus, nós também devemos em realidade expressar harmonia, espiritualidade e bondade em nossa natureza e existência. Nosso papel é tratar os outros com amor e respeito, como irmãos e irmãs na Verdade, e não cabe a nós fazer com que os outros concordem conosco, caso nos sintamos rotulados. Esses pensamentos me fizeram perceber que, devido à história por trás da decisão dos funcionários de não me deixar jogar com eles, teria sido muito insensível da minha parte tentar convencê-los a desconsiderar a cor da minha pele e me deixar jogar. Contudo, era responsabilidade minha tratá-los com base na verdade de que somos todos filhos do mesmo Deus.
Algumas semanas depois, eu estava lendo, sentado no gramado, quando um dos rapazes veio correndo e perguntou-me se eu queria fazer parte do time deles naquele dia. Estava faltando um homem para o jogo da tarde. Concordei com alegria e fomos jogar. Embora eu tenha recebido alguns olhares perplexos, tanto dos meus colegas de time quanto dos nossos adversários, consegui provar o meu valor no jogo e desfrutamos de uma partida sensacional. Pouco antes do fim, caiu uma forte tempestade e, em vez de apertos de mãos, terminamos o jogo ajudando uns aos outros a chegar em casa, em meio à chuva torrencial.
Quando estávamos voltando para nossos respectivos alojamentos, um dos homens me puxou de lado e me agradeceu por jogar com eles. Disse que gostaria que eu participasse dos jogos durante o resto da minha estada na fazenda. Fiquei muito grato por essa nova acolhida; tive agradáveis conversas e novos contatos com diversos jovens, durante o restante do meu tempo ali.
Sou muito grato porque pude me voltar a Deus — e ouvir Sua orientação de como agir com qualquer pessoa, em qualquer situação. Deus é o único que pode realmente nos rotular; somos Seu reflexo perfeito. Não importa os rótulos que os outros possam nos dar, temos o direito de agir com base naquilo que realmente somos: filhos de Deus e, portanto, irmãos e irmãs de todos à nossa volta.