Por que Jesus escolheu os leprosos em seu mandamento: “Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios...” (Mateus 10:8)? Já não estariam as vítimas dessa doença incluídas entre os “enfermos”?
A lepra se destaca na Bíblia como algo especial. De acordo com os estudiosos, a palavra lepra, conforme usada em Levítico, incluía uma grande variedade de doenças de pele, inclusive o tipo considerado incurável. Alguns também são de opinião que toda doença era considerada uma punição pelos pecados. Contudo, os leprosos eram vistos como uma fonte em potencial de contaminação para qualquer pessoa que entrasse em contato com eles. A mera presença de um leproso significava que uma comunidade inteira podia ser contaminada e incorrer na cólera de Deus (ver, por exemplo, o dicionário The Anchor Bible Dictionary, Vol. 4, pp. 277-282).
Sob a lei rabínica, os sacerdotes examinavam todos os afligidos com qualquer doença de pele e declaravam aqueles com lepra como “impuros” e proibidos de entrar em contato com as outras pessoas. Banidos do contato com seus vizinhos, os leprosos viviam fora da comunidade e tinham de dar um alarme em voz alta, para que as pessoas evitassem de se aproximar deles (ver Levítico 13:45). Os leprosos, vivendo longe do templo, não podiam participar das cerimônias e ritos sagrados, o que significava que eram proibidos de estar na presença de Deus. Antes de um leproso poder retornar ao convívio normal com outras pessoas, um sacerdote tinha de declará-lo uma pessoa “pura”. Observamos a obediência a essa lei quando Jesus se encontrou com dez leprosos. Ele lhes diz para irem e se mostrarem aos sacerdotes, mesmo antes que sua aparência física tenha mudado. O relato bíblico diz: “...Aconteceu que, indo eles, foram purificados” (Lucas 17:14).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a lepra ainda é considerada um problema de saúde pública em áreas da África, Ásia e América Latina. Muitas outras doenças, físicas ou mesmo mentais (tais como AIDS, gripe aviária, pedofilia, alcoolismo, esquizofrenia e transtorno maníaco-depressivo (hoje mais conhecida como “transtorno bi-polar”) carregam também o estigma de serem consideradas incuráveis, causadoras de desfiguração, comportamento pervertido ou como uma fonte em potencial de perigo para outras pessoas. Sob a ótica do mundo, ou nossa própria, quantas pessoas estão inclusas na definição de leproso, apresentada pelo dicionário como alguém a “ser evitado ou condenado ao ostracismo... devido ao perigo de contaminação moral”? Não é exagero verificar que terroristas, suspeitos de terrorismo, até mesmo mendigos e moradores de rua, estejam incluídos nessa categoria. Não são eles temidos, evitados e, freqüentemente, considerados incuráveis?
Naturalmente, é vital agir de acordo com as leis do governo, que exigem quarentena para pessoas com doenças contagiosas e leis que protegem a sociedade de pervertidos sexuais, traficantes de drogas e motoristas embriagados. Contudo, obedecer a essas leis humanas não deveria diminuir nosso empenho em agir de acordo com as leis de Deus, as quais Jesus compreendia muito bem, e que podem trazer cura às doenças contagiosas, incuráveis ou socialmente inaceitáveis, de hoje em dia.
Uma maneira pela qual podemos começar a seguir o mandamento de Jesus é aumentar nossa compreensão da criação pura, perfeita e saudável de Deus, ou seja, compreender em profundidade que os filhos da criação de Deus (o que significa todas as pessoas) nunca podem ser uma fonte de mal para si mesmos ou para outros. Podemos curar os “leprosos” do mundo moderno por intermédio de nossa compreensão a respeito do relacionamento intacto e puro deles com o Deus Pai-Mãe universal. Ninguém jamais pode estar fora da presença do Amor divino.
Em Ciência e Saúde, próximo ao título marginal: “Lepra curada”, Mary Baker Eddy explicou a origem mental de doenças desse tipo, quando escreveu sobre o relato bíblico de Moisés em Êxodo 4: “Ficou cientificamente demonstrado que a lepra era uma criação da mente mortal e não um estado da matéria, quando Moisés primeiro meteu a mão no peito e a retirou branca como a neve, atacada da moléstia temida, e logo fez a mão voltar a seu estado natural pelo mesmo processo simples” (p. 321).
Fica claro que, algo que é uma criação da mente mortal, quer seja chamado de lepra, AIDS, promiscuidade, gripe ou uma miríade de outras doenças físicas e morais, nunca pode ocupar um lugar na verdadeira Mente eterna, Deus. Nem pode qualquer um de nós, existindo como idéia na Mente divina, ser uma fonte de algo que a Mente não criou.
Muitas das doenças do tipo da lepra, como antigamente, ainda são consideradas por alguns como um sinal da ira de Deus e de punição pelo pecado. Purificar os leprosos, então, pode também significar a purificação do nosso pensamento a respeito do conceito de que Deus tenha criado alguém capaz de pecar. Essa compreensão pura pode trazer cura àqueles que são vítimas do estigma social ou de sua própria crença de que sejam miseráveis pecadores, sem nenhuma esperança de cura.
A Sra. Eddy deu esta clara orientação sobre a importância de manter nosso próprio lar mental em ordem: “Ao manter em minha mente a idéia correta a respeito do homem, posso melhorar minha própria individualidade, saúde e moral, como também a de outros; ao passo que, ao manter constantemente na mente a imagem oposta de homem, ou seja, a de um pecador, não pode melhorar a saúde ou a moral, assim como não pode ajudar a um artista manter em seu pensamento a forma de uma jibóia ao pintar uma paisagem” (Miscellaneous Writings 1883-1896, [Escritos Diversos], p. 62).
A capacidade de Jesus de ver o homem como criado pelo Amor divino, pelo Espírito divino e não pela matéria, além de ver a si mesmo e aos outros como reflexos puros desse Amor, iluminava a consciência das pessoas que vinham até ele e as libertava da doença e do pecado.
Por exemplo, não temos nenhum registro de Jesus tentando convencer o detestado coletor de impostos, Zaqueu, que era conhecido como um publicano corrupto, a devolver o que ele havia cobrado a mais, de maneira injusta, de outros (ver Lucas 19:2-10). Contudo, aparentemente, Jesus, ao tomar conhecimento de sua presença e conversar com ele (Zaqueu era considerado um pária social), iluminou o pensamento do criticado homem com amor, regenerando-o. Também nós podemos expressar tanto esse amor que advém do Cristo como a compreensão espiritual necessária para ajudar os assim-chamados pecadores incorrigíveis em nosso meio, os leprosos, por assim dizer, e libertá-los de sua vida miserável e ações pecaminosas.
Em outro relato da Bíblia, Jesus conduziu aqueles que legalmente estavam para apedrejar até à morte uma mulher adúltera, a examinarem seu próprio pensamento e a se confrontarem com sua própria vida nem tão perfeita assim. A capacidade de Jesus de ver “...O homem perfeito, que lhe aparecia ali mesmo onde o homem mortal e pecador aparece aos mortais” (Ciência e Saúde, p. 476) libertou aquela mulher da condenação da sociedade, abrindo-lhe o caminho, quando disse: “...vai e não peques mais” (João 8:11).
Embora medidas legais e humanitárias ainda sejam a forma principal com a qual a humanidade lida com muitas doenças do tipo da lepra, a Sra. Eddy escreveu sobre a Ciência do Cristo como o meio pelo qual “os leprosos físicos e morais são purificados” (Miscellaneous Writings, p. 168). Essa Ciência mostra que o Cristo sanador é uma influência divina, que pode alcançar a consciência de cada um que deseja se livrar da miséria de qualquer doença desse tipo, física ou moral. Em nossas orações, podemos afirmar que a influência do Cristo, a manifestação de Deus, tem o poder de agir na mente e no coração de cada um, trazendo à luz sua natureza espiritual, não susceptível ao mal.
Por meio da oração, podemos purificar nossos próprios conceitos a respeito de cada proscrito social ou pessoa que conhecemos, vemos ou sobre a qual ouvimos falar e que supostamente sofra de algo incurável. Tal oração pode inspirar a nós ou a outros a dar os passos práticos, espirituais, em direção à cura permanente. A oração, fundamentada no conceito de “Deus perfeito e homem perfeito” (Ciência e Saúde, p. 259), purifica, até certo ponto, a atmosfera mental de toda consciência humana. Essa purificação mental abre o caminho para a purificação de doenças debilitantes e ofensivas no mundo, como um todo.
Em outubro de 2006, o jornal The Christian Science Monitor publicou uma série intitulada “Africa After War: Paths to Forgiveness” (A África do Pós-guerra: Caminhos para o Perdão), apresentando exemplos da moderna purificação moral nas comunidades africanas que haviam sido devastadas pela guerra civil. Uma reportagem fala sobre antigos terroristas sendo recebidos de volta na comunidade que eles haviam anteriormente aterrorizado. Cada um deles foi perdoado e formalmente reintegrado como um membro pleno da comunidade. Vi isso na Colômbia, também, quando jovens membros da guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) decidiram abandonar aquela vida e foram recebidos de volta na comunidade.
Como os atuais discípulos de Cristo Jesus, empenhamo-nos em seguir seus mandamentos. Podemos todos orar para compreender melhor esse mandamento de purificar os leprosos e de como levar a cabo essa tarefa. Podemos nos dedicar a encarar a necessidade de purificar nossa própria vida de quaisquer pretensões de pecado, esforçando-nos em manter os pensamentos puros sobre o próximo, ou seja, aqueles em nossas comunidades, nossos irmãos e irmãs, em todo o mundo. Nossa oração, ao reconhecer a pureza e a perfeição da criação de Deus, pode abrir o caminho para a humanidade sentir o poder purificador do Cristo e o que significa nunca ser impedido de estar na presença de Deus.
