Sem sombra de dúvida, já nos sentamos em uma delas, em algum momento de nossa vida. Ultracompacta, leve, macia e económica. A cadeira "40/4", de David Rowland, própria para ser empilhada, levou-o ao ápice de sua carreira de designer e despertou a admiração do público. Essa cadeira pode ser encontrada no "Metropolitan Museum" e no Museu de Arte Moderna, ambos em Nova Iorque; na coleção permanente do Palácio do Louvre, em Paris, na Escola Bauhaus, em Dessau, na Alemanha, e em muitos outros locais públicos, em todo o mundo.
Depois de estudar na Academia de Arte Cranbrook, no estado de Michigan, Estados Unidos, onde também estudaram os famosos arquitetos e designers americanos Charles e Ray Eames e Eero Saarinen, David se mudou, no início da década de 1950, para um quarto do tamanho de um closet, na cidade de Nova Iorque. Ali, ele passava cada momento livre aperfeiçoando o projeto de sua caderia, enquanto trabalhava em dois outros empregos.
"Um senhor, na igreja da Ciência Cristã que eu freqüentava, sempre me perguntava o que eu estava fazendo", conta David, "e eu respondia: 'Estou trabalhando na minha cadeira' ". Esse homem fez essa pergunta ao David durante oito anos e a resposta sempre foi a mesma. "Acho que ele pensava que eu era lunático", disse David.
Ao final, em 1964, a cadeira de David foi premiada com o cobiçado "Gran Prix", na Triennale de Milão (uma mostra internacional que exibe e premia a qualidade do design emergente). Na ocasião, a cadeira de David foi considerada a melhor peça de engenharia nos Estados Unidos. Desde essa época, ela tem mantido seu status como uma das cadeiras empilháveis comercialmente mais bem sucedidas já produzidas.
"Em outubro de 1964, minha cadeira ocupou a primeira página do jornal The New York Times, pelo prêmio recebido em Milão. Meu amigo da igreja se aproximou de mim com o jornal na mão e disse: 'Por que você não me contou que estava trabalhando em uma cadeira tão espetacular'? Acho que ele estava um tanto chocado!"
O modelo "40/4", assim chamado porque uma pilha de quarenta cadeiras mede 4 pés de altura, ou 1,36m, tem resistido às várias exigências do design de cada década, atendendo a requisitos ergonômicos, às necessidades de economia de espaço e também de conscientização ambiental. De várias formas, as qualidades que essa cadeira veio a representar, tais como: persistência, paciência, resolução firme, atemporalidade, perseverança e inteligência, descrevem a jornada espiritual que David teve de percorrer para desenvolver e executar seu projeto.
Quando teve a idéia inicial de projetar uma cadeira, considerou isso como uma orientação divina e se agarrou a ela, apesar dos vários obstáculos que lhe apareceram pelo caminho.
Cientista Cristão desde criança, David se lembra da primeira cura que teve por intermédio da oração, quando orou sozinho aos cinco anos de idade. “Estava com dor de cabeça, mas decidi que nada me impediria de trabalhar na minha pequena horta. Então, sentei-me e meditei sobre a Oração do Senhor e a interpretação espiritual de Mary Baker Eddy para essa oração.” Ele conta que, quando acabou a oração, que termina: “Pois Teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Pois Deus é infinito, todo poder, todo Vida, Verdade, Amor; está acima de tudo, e é Tudo” (Ciência e Saúde, p. 17), ele apanhou uma pá e começou a cuidar da horta. Naquele momento, lembra-se claramente de que a dor de cabeça desapareceu. “Não ia permitir que uma condição material interferisse naquilo que era meu dever fazer”.
Essa mesma linha de raciocínio espiritual se aplica à bem sucedida conclusão de seu projeto da cadeira “40/4”. “Quando me mudei para a cidade de Nova Iorque, estava trabalhando com a idéia de que eu precisava ter êxito, porque meu pai estava para se aposentar de seu emprego em um museu sem fins lucrativos e não receberia nenhuma pensão. Desejava ajudar meus pais financeiramente”. Então, quando teve a idéia inicial de projetar uma cadeira, considerou isso como uma orientação divina e se agarrou a ela, apesar dos vários obstáculos que lhe apareceram pelo caminho. Ouvir sua história é um pouco semelhante à versão moderna da história de Neemias, do Antigo Testamento, sobre a reconstrução dos muros de Jerusalém.
David começou a construir protótipos de sua cadeira, ao todo mais de trinta, durante um período de oito anos. A grande questão para ele era: como iria atrair o interesse para esse projeto e lançá-lo para o público em geral? “Conhecia uma senhora que havia visitado minha escola e que era encarregada do departamento de design de interiores de uma das mais importantes empresas de design de móveis modernos do mundo. Então, decidi mostrar a ela meu projeto”, conta ele. “Entretanto, por seis vezes ela rejeitou cada novo modelo que eu lhe mostrava”.
Mas isso não deteve David. Após muita oração, ele conta que decidiu fazer a ela uma oferta irresistivel. “Lembro-me de ter pensado e orado sobre isso. Em uma tarde quente de domingo, de repente, veio-me a idéia: 'Hei! Por que você não vê quantas cadeiras cabem em um pequeno espaço?' Então, percebi que não poderia simplesmente fazer um modelo pequeno. Precisava de duas cadeiras de tamanho normal para mostrar como elas poderiam ser empilhadas”. Até aquela época, cadeiras comuns só poderiam ser empilhadas de quatro em quatro. A de David seria a primeira cadeira que poderia ser empilhada em maior quantidade, e ainda assim, ser confortável.
À medida que trabalhava em dois protótipos de tamanho normal, David imaginou que deveria consultar um respeitado especialista sobre o assunto. “Contatei Edgar Kaufmann Jr., que naquela época era o diretor de Arquitetura e Design do Museu de Arte Moderna da Cidade de Nova Iorque”. Kaufmann era algo como um aficionado por design, filho de uma importante família de comerciantes da Pensilvânia, cuja casa de fim de semana era a “Fallingwater”, a casa famosa projetada pelo renomado arquiteto chamado Frank Lloyd Wright. “Quando me sentei em frente ao Kaufmann, contei-lhe sobre minha idéia de empilhar quarenta cadeiras com uma altura total de 1,36m. Ele me olhou direto nos olhos e disse que não haveria mercado para isso nos Estados Unidos. Ele entendia de marketing e acreditei nele. Mas, ali estava ele me dizendo que minha cadeira não era uma boa idéia”.
Embora tivesse levado a sério a opinião de Kaufmann, David novamente se perguntou de onde viera a idéia original de sua cadeira. “Minha única resposta foi de que viera de Deus”, disse ele, “não de Edgar Kaufmann Jr., ou da minha amiga projetista de móveis ou de qualquer outra pessoa. Se viera de Deus, então tinha de lutar por ela”.
Ele foi à luta. Em pouco tempo, havia terminado seus dois modelos de cadeiras e os apresentou à sua amiga da loja de móveis. Conta ele: “Ela se sentou nela, e, em segundos, disse: 'Ficaremos com ela'. A empresa me ofereceu 20.000 dólares pelos direitos sobre a cadeira”.
David admite que era tentador aceitar aquele dinheiro e ir embora, mas a oração o afastou dessa decisão. “Lembro-me de pensar que as idéias de Deus sempre nos sustentam e que essa era uma idéia de Deus. Percebi que, se simplesmente ganhasse uma pequena porcentagem a cada cadeira vendida, ao invés de uma grande quantia em dinheiro adiantado, conseguiria me sustentar durante muitos anos, como também poderia cuidar de meus pais”.
Embora não tenha aceitado aquela oferta, ainda assim a empresa desejava produzir a cadeira. Após alguns meses, ele descobriu que um grupo de funcionários designers daquela empresa estava trabalhando contra ele, sem que ele soubesse. “Eles deveriam estar preparando minha cadeira para produção e, no entanto, eram contra o fato de a empresa tê-la aceitado”, disse ele. “Após seis meses, eles tiveram uma reunião e disseram que a cadeira não se encaixava direito, lateral com lateral, como eu havia projetado (eles não haviam obedecido às características do projeto). Portanto, recebi uma carta cancelando o contrato”.
Mais um revés. Contudo, à medida que David orava para reconhecer que Deus se expressa a Si mesmo como Princípio divino, honesto, ordeiro, pontual, completo, ele decidiu que era muito importante que não ficasse ofendido. Ele se lembra também de ter se concentrado nestes versos de um dos poemas da Sra. Eddy:
“O Amor te salva, e me conduz
Do ódio ao bem
Saber é força; Vida, luz,
E Tudo é Deus"
(Poema “Satisfeito”, Hinário da Ciência Cristã, 160-162).
Expressando bondade ao invés de ressentimento, empenhando-se verdadeiramente em demonstrar a lei de Jesus de amar ao próximo como a si mesmo, David conta que conseguiu abrir um caminho para sua cadeira dentro daquela empresa de arquitetura.
Pouco tempo depois, David participou de uma exposição de móveis para escritório no New York Coliseum. Ele relembra: “Encontrei por acaso o gerente nacional de vendas daquela mesma empresa de móveis que havia cancelado meu contrato. Contudo, ao invés de evitá-lo, veio-me a idéia de lhe estender a mão e dizer alô”. Quando começaram a conversar, esse homem sugeriu que David ligasse para uma empresa internacional de arquitetura muito grande e famosa, para ver se eles se interessariam pelo projeto de sua cadeira. Expressando bondade ao invés de ressentimento, empenhando-se verdadeiramente em demonstrar a lei de Jesus de amar ao próximo como a si mesmo, David conta que conseguiu abrir um caminho para sua cadeira dentro daquela empresa de arquitetura. “Telefonei para eles e fiquei sabendo que estavam trabalhando em um projeto para um campus universitário e que precisavam de 16.000 das minhas cadeiras!” Isso gerou dinheiro suficiente para pagar pela produção das cadeiras. O fato de essa empresa ver a cadeira como uma obra de arte, e não apenas como um objeto funcional, também foi muito importante para David.
A venda da cadeira empilhável “40/4” continuou por quarenta e três anos, com mais de um milhão de unidades vendidas. A produção do primeiro ano registrou uma venda acima de 50.000 unidades, apenas nos Estados Unidos, dez vezes mais do que aquela primeira empresa havia planejado. Depois que ele recebeu o prêmio em Milão, veio uma avalanche de pedidos da Europa para essa cadeira. Isso era algo sem precedentes; até então, os móveis europeus é que geralmente vinham para os Estados Unidos, e não o contrário.
Embora seu pai tenha falecido antes que a cadeira fosse produzida, David sustentou sua mãe quando ela se aposentou.
Um homem, uma oração, uma idéia. A história de David nos remete a algo que a Sra. Eddy escreveu em Ciência e Saúde: “O sentido espiritual, que contradiz os sentidos materiais, contém intuição, esperança, fé, compreensão, fruição, realidade” (p. 298). Ele continuou a projetar inúmeras outras cadeiras para produção em massa. Hoje, ele continua a trabalhar com idéias criativas e pioneiras para projetos. Contudo, sua cadeira “40/4” continua incomparável, a peça central de uma vida de trabalho e o símbolo de um homem que recebeu uma idéia de Deus e foi em frente com ela.
