No ano passado, próximo do término da sétima série, um grupo de meninos da minha idade e também alguns mais jovens inventaram um boato insinuando que eu havia feito algo muito embaraçoso na sexta série. Havia muitas razões que demonstravam que o boato era absurdo. Entretanto, os meninos o achavam muito divertido.
As coisas saíram do controle de forma rápida e, cada vez mais, os meninos zombavam de mim quando me viam. Tentava ignorar o que diziam ou reformular o insulto, transformando-o em algo positivo.
Quando iniciei a oitava série, achava que tudo aquilo fosse coisa do passado e que não iria mais acontecer. No início, tudo ia bem até que a intimidação recomeçou inesperadamente no meio do ano letivo. Minha autoestima não ajudava porque me sentia envergonhado a ponto de nem mesmo enfrentar os alunos mais jovens que me intimidavam. Minha concentração diminuiu e minhas notas começaram a baixar um pouco.
Finalmente, decidi denunciar os garotos ao diretor, porque o que eles faziam era muito cruel. Os meninos foram suspensos por alguns dias. Entretanto, quando retornaram à escola, começaram a zombar de mim até mesmo na frente do diretor. Diziam que fora estupidez minha denunciá-los. Partiram então para me empurrar. Eu não revidava e dizia: “Caras, não quero problemas, vocês têm de parar com isso porque a situação já está saindo fora do controle”. Sou faixa roxa em caratê e poderia ferir alguém se quisesse. Contudo, o autocontrole é importante. Lutas nunca resolvem nada.
Ignorar a intimidação também não é uma boa idéia. Acho importante tomar uma atitude, tanto física (não lutando, mas conversando com alguém sobre o problema), como metafisicamente. Muitas escolas ensinam aos alunos a não fazerem uso da intimidação entre eles, mas isso não ajuda muito. Os alunos fingem que ouvem, mas continuam provocando quando ninguém está olhando. A Ciência Cristã foi uma das coisas mais úteis que aprendi. Todas as manhãs, minha mãe lê para mim a Lição Bíblica (contida no Livrete Trimestral da Ciência Cristã), antes de eu ir para a escola. Isso pode soar como algo chato, mas, uma manhã, enquanto lia sobre Saulo em uma seção da Lição, pensei: “Puxa, se eu fosse um cristão naquela época, teria lutado contra Saulo por tudo o que fizera com os seguidores de Jesus”. Foi então que compreendi que, se tivesse feito isso, teria tomado a decisão errada, porque Saulo posteriormente compreendeu que o que ele havia feito, ou seja, intimidar e prender os cristãos, estava errado. Ele se transformou em uma pessoa importante, no apóstolo Paulo, que escreveu coisas maravilhosas e curou muitas pessoas. Ele realmente passou por uma grande transformação.
Também conversei algumas vezes com uma Praticista da Ciência Cristã sobre a situação na escola e compreendi que era importante ver os meninos que me provocavam como filhos de Deus, e a perdoá-los como eu teria perdoado a Saulo. Quando você perdoa, grandes coisas podem acontecer.
Compreendi que era importante ver os meninos que me provocavam como filhos de Deus, e a perdoá-los como eu teria perdoado a Saulo. Quando você perdoa, grandes coisas podem acontecer.
Isso me ajudou a parar de reagir aos meninos, como fizera no início. Ao invés de me estressar ou me aborrecer com eles, fiz o possível para vê-los como reflexos de Deus. Quando você é o reflexo de algo, você não pode fazer nada que o original não faça. Uma vez que Deus é somente bom, esses meninos tinham de ser bons, muito embora não parecesse que o fossem.
No último dia de aula, um menino, que nunca havia me aborrecido muito antes, perguntou-me, em tom de zombaria, se eu realmente havia feito aquilo que todo mundo dizia que eu fizera. Olhei diretamente dentro de seus olhos e disse: “Não”, e fui embora. Ao contrário do que havia feito algumas vezes, não dei grande importância a isso. Acho que isso ajudou bastante. Como aprendi a quando responder a eles e quando não fazê-lo, isso deixou de ser motivo de diversão.
Muito embora algumas pessoas talvez ainda achem o boato divertido, penso que deixei uma impressão duradoura porque não reagi até o fim. Quando você tem algo que o incomoda durante muito tempo, às vezes parece uma boa idéia revidar. Contudo, quando você utiliza um pensamento metafísico, como, por exemplo, o fato de que somos filhos de Deus, isso o ajuda a descobrir como responder a uma provocação sem brigas. Anos mais tarde, você olhará para trás e perceberá que tomou a atitude certa.
