Durante os últimos sete anos, tenho trabalhado para o governo municipal de uma linda cidade praiana na Inglaterra. Quando, para minha surpresa, fui eleito como Conselheiro Distrital, assumi essa função com muito entusiasmo e expectativa. Vi que era uma oportunidade de ajudar a preservar o patrimônio da comunidade local e, ao mesmo tempo, de compartilhar novas ideias com os membros do Conselho e com os meus constituintes.
Claro que meu conceito idealizado de governo e a realidade do trabalho são dois contrapontos completamente diferentes. Quando desejamos estabelecer uma agenda para um projeto no qual sinceramente acreditamos, tudo parece moroso. No entanto, tudo parece mover-se com a velocidade da luz, quando o tempo não nos favorece ou o assunto é algo contra o qual nos opomos veementemente! Soma-se a tudo isso o fato de precisarmos lidar com grupos que fazem pressão, com a crítica da imprensa, membros da oposição, autoridades do Conselho e, às vezes, com nossos próprios auxiliares, que têm ideias e interesses próprios.
Algumas vezes, cargos políticos podem parecer um tanto estressantes e desagradáveis, já nos primeiros meses, o que nos leva a questionar qual foi a razão pela qual nos decidimos, em primeiro lugar, a procurar esse tipo de cargo. Na maior parte das vezes, não demora muito para que o desânimo e a autocomiseração se instalem em nosso pensamento.
Compreendi que podia ter a expectativa de ver Deus em ação
Estava nesse estado mental em uma determinada quarta-feira à noite, quando me sentei em uma igreja filial da Ciência Cristã para assistir à reunião semanal de testemunhos. A leitura feita do púlpito com trechos da Bíblia e de Ciência e Saúde enfatizou como o Amor, usado em seu contexto espiritual como um dos sinônimos para Deus, nos livra da tentação e nos concede a liberdade para aceitar nossa unidade com Deus. A última citação lida veio do livro Ciência e Saúde: “Cidadãos do mundo, aceitai a ‘liberdade da glória dos filhos de Deus’, e sede livres!” (p. 227).
Ouvir aquela declaração me impressionou de forma imediata e poderosa. Percebi que estava livre para ver todos os cidadãos do mundo como filhos de Deus, para ver a todos nós como filhos e filhas de Deus, não como mortais críticos e desinteressados em colaborar. Estava livre para ver estas qualidades espirituais expressadas por todos: cooperação, harmonia, unidade de propósito, moralidade, honestidade, integridade e bondade. Com o que iria eu me importar e o que iria exigir como pensamento dominante: o ódio e o desdém, ou o amor e o apreço; a crítica e a desunião, ou o acordo e a unidade de propósito? Percebi claramente que a escolha de como abordar a situação era minha.
No livro Ciência e Saúde, Mary Baker Eddy fala que estamos “modelando e cinzelando o pensamento” segundo a imagem espiritual ou material que entretemos, imagem essa que pode ter o caráter das qualidades de Deus ou apresentar um mortal incompleto e grosseiro. Estar livre para identificar qualidades espirituais nos permite remover do pensamento o “modelo imperfeito”, reivindicando, em vez disso, a plenitude da expressão de Deus (ver p. 248). Essa liberdade para enxergar a identidade espiritual das pessoas também nos libera para vermos a nós mesmos de forma semelhante. Nossa identidade espiritual é sem culpa, sem autocondenação ou qualquer outra característica discordante; é correlata com a de Deus, o Espírito, e permanece em nós como o reflexo perfeito de nosso Pai-Mãe Deus.
Havia uma Reunião do Conselho marcada e eu não estava nem um pouco entusiasmado a ir, pois temia que fosse parecida com a última reunião que tivéramos, a qual fora particularmente desagradável e, muito provavelmente, o ponto mais baixo de toda a minha experiência no Conselho. Mas, agora, depois daquela reunião de testemunhos na igreja, compreendi que não tinha de aceitar um cenário de discórdia. Podia ter a expectativa de ver Deus em ação.
Sempre estamos livres para ver o ser humano como o reflexo de ideias espirituais
A descrição de Mary Baker Eddy sobre o significado da palavra “olhos” na Bíblia, e que consta do Glossário do livro Ciência e Saúde, contém o termo “discernimento espiritual” (ver p. 586). Portanto, compreendi que por estar livre para ver o ser humano sob uma perspectiva espiritual, eu podia discernir e acalentar um cenário mais elevado e correto sobre a experiência de uma Reunião do Conselho; também podia optar por ver as autoridades e os membros do Conselho como descendentes do Espírito, manifestando as qualidades do Espírito, Deus.
A Reunião do Conselho transcorreu de forma satisfatória, eficiente, eficaz e com unidade de propósito e boa vontade. Considerando-se que da última vez havia sido difícil, quando houve ânimos exaltados, dessa vez as pessoas saíram felizes, conversando e brincando umas com as outras. Embora ainda existam algumas arestas a serem aparadas, o Conselho Distrital passou a ser, no geral, uma experiência muito mais suave daí em diante. Que diferença, quando estamos livres para ver as coisas de modo diverso, quando mudamos a perspectiva!
Essa liberdade não está restrita a acontecimentos em nossa própria vida. Estamos livres para ver todos os seres humanos, em todas as circunstâncias, como ideias espirituais que refletem qualidades divinas. Quanto mais focarmos nosso pensamento nessa direção, mais suscetíveis estaremos a uma liberdade maior para perceber as possibilidades espirituais, as ideias que nos guiarão às soluções que necessitamos em nosso mundo de hoje. A “gloriosa liberdade dos filhos de Deus” está disponível agora mesmo para toda a humanidade, em qualquer situação. Além disso, todos são livres para descobrir isso!
Artigo originalmente publicado na edição de 22 de abril de 2010 do Christian Science Sentinel.
 
    
