Não há quem não deseje se sentir amado, apreciado e compreendido. Há, porém, muitas pessoas que, por um motivo ou outro, se sentem postas de lado, excluídas e rejeitadas. Às vezes, pessoas de raças diversas e culturas diferentes se sentem rejeitadas pela raça majoritária, seja qual for a nação a que pertençam. Cidadãos de idade avançada sentem a rejeição de uma sociedade voltada principalmente para a juventude. Pais e mães de crianças classificadas como "excepcionais" sentem a rejeição que o filho sofre quando é excluído socialmente pelos que com ele convivem. Os direitos sociais e a fraternidade, no entanto, jamais podem ser obtidos por meio do ódio ou de exigências rígidas.
É mediante o crescimento espiritual e o amadurecimento que aprendemos a admitir para nós mesmos que a resposta encontra-se bem à nossa porta, bem dentro do alcance de nosso próprio pensamento. A Ciência Cristã mostra-nos a maneira de curar as mágoas profundas que porventura tenhamos sofrido. Quando, com toda a honestidade, atendemos à necessidade básica de aprofundar a espiritualização do pensamento, já estamos a caminho da cura. Estamos aprendendo a encarar as pessoas, as circunstâncias e os acontecimentos de maneira mais espiritualizada.
Se nos sentimos indesejados ou se achamos que ninguém gosta de nós, podemos saber que ninguém está excluído do amplexo infinitamente terno e afetuoso de Deus, o Amor. Buscar o amor de Deus já é um passo na purificação e no aprofundamento de nossa compreensão de que Deus é Amor. E o Amor que é Deus, se faz sentir afetuosamente no coração humano.
Através da oração, descobrimos que é preciso expressar mais amor para conosco e para com as demais pessoas. Assim agindo em nosso viver diário, por mais rejeitados que nos sintamos, ou por mais justificados que pareçam ser os nossos sentimentos feridos, passamos a sentir mais liberdade. Aprendemos que uma consciência repleta de pensamentos advindos do Amor divino é capaz de conhecer e sentir somente amor genuíno. Ao reconhecermos que, em verdade, não existe o lado de fora da consciência, nossas perspectivas mudam. Ao invés de buscar soluções na matéria, percebemos a presença tangível do Amor, que nos dá a estabilidade e a paz interior que buscamos.
A maioria das pessoas concorda que uma amizade que não cessa de amar, compreender, perdoar e ter compaixão é, sem dúvida, uma jóia preciosa. Na Ciência Cristã, aprendemos que amizades duradouras e felizes não só são possíveis, como são o resultado natural de aprendermos que a fonte de todo ser verdadeiro está no Amor divino. O pensamento fica livre para captar a verdade de que cada indivíduo, em sua verdadeira identidade, é realmente a expressão harmoniosa da única Mente divina. Aprendemos a conhecer-nos uns aos outros, mais sob o ponto de vista da inteligência divinamente alicerçada, com uma compaixão cada vez mais ampla, que cresce a partir de nossa percepção de Deus, o Amor. Essa compaixão ilumina nossas avaliações, de modo a que alcancem além daquilo que a personalidade material de uma pessoa possa nos apresentar.
Para nos protegermos de atritos e infelicidade desnecessários, é preciso estarmos alertas para as sugestões agressivas (tantas vezes sutis) do magnetismo animal, que nos induziriam a crer que existem muitas mentes em conflito, ao invés de saber que existe uma única Mente, Deus. O magnetismo animal procura destruir relacionamentos que prezamos, por insinuar, no pensamento, mal-entendidos e ressentimento. Deixados a seu bel-prazer, esses sentimentos tendem a inflar até se transformarem em ódio ou, até mesmo, em desejo de vingança. Tudo isso faz parte do quadro invertido que a mortalidade apresenta.
Esse quadro nos levaria a crer que temos uma identidade separada de Deus. Para impedir que isso aconteça, temos de manter vigilância devota e disciplina espiritual, a fim de enxergar além da personalidade material até o homem espiritual a quem Deus fez à Sua própria imagem. Encarando as coisas do ponto de vista da totalidade de Deus, vemos o homem como idéia de Deus, a refletir as qualidades espirituais inerentes nesse Criador totalmente bom. Todas as idéias de Deus se movem em harmonia umas com as outras.
No decorrer de nossa jornada de crescimento espiritual, começamos a perder, até certo ponto, o conceito que temos a nosso respeito como se fôssemos um eu material passível de ser separado de Deus. No esforço por compreender nossa natureza espiritual real, precisamos libertar o pensamento das características limitadoras e mortais impostas pela história familiar ou pela crença geral. Podemos deixar de nos ver como pessoas emotivas, supersensíveis ou demasiado veementes. O orgulho oculto às vezes entrava nossa disposição natural de conseguir essa liberdade. Mas quando compreendemos que essas crenças não são de nossa propriedade pessoal, começamos a desfrutar de perspectivas bem mais amplas sobre nossa verdadeira individualidade, sujeita somente a Deus.
Certa vez, um relacionamento que me era valioso, esfriou porque eu não estive alerta a essas sugestões causadoras de divisões que o magnetismo animal, ou sentido pessoal, apresenta. Surgiram mal-entendidos até que minha amiga, a quem eu queria muito bem, fechoume a porta de uma vez por todas. Fiquei desolada. Sentia-me rejeitada, magoada, infeliz e com muito ressentimento! Numa noite de inquietação, enquanto orava em busca de paz, a seguinte parte de uma frase de Ciência e Saúde, de autoria da Sra. Eddy, me ocorreu ao pensamento: "até que a lição seja suficiente para te sublimar." A frase toda diz: "Os amigos te trairão e os inimigos te caluniarão, até que a lição seja suficiente para te sublimar; pois a 'extrema necessidade do homem é a oportunidade de Deus' ." Ciência e Saúde, p. 266.
Com a perspicácia advinda da experiência, a Sra. Eddy asseveranos que aquilo que parece um vazio, já está ocupado pelo Amor divino. O terno consolo do Amor está sempre conosco, até mesmo no momento em que nos é exigido que todos os anseios egoístas sejam silenciados e o coração seja disciplinado para que renda homenagem a Deus. O que faz essa lição parecer rigorosa, é que a mente carnal (a mentalidade que se identifica com o eu material), se recusa a abandonar seus conceitos carnais em troca do que é espiritualmente real e verdadeiro. Mas mediante a oração e o crescimento espiritual, nosso conceito de identidade individual perde sua identificação com a corporalidade, nossa própria ou de outrem. Então, algo maravilhoso começa a acontecer. Um amor universal, mais amplo, mais vasto, com uma dimensão maior do que a matéria é capaz de delinear — anula os desejos egotistas, possessivos e limitados.
Não foi imediatamente que me libertei da raiva e da tristeza. Constatei que havia muito a aprender ao longo do caminho, muito a corrigir nos caminhos já andados. Fazia-se necessária muita paciência, tanto com os outros, quanto comigo mesma. Durante os meses seguintes, porém, que foram meses de crescimento espiritual, houve sinais maravilhosos do amor de Deus. Meu talento musical, sem uso havia dez anos, voltou na plenitude de sua força e numa profundidade bem maior do que antes, dando-me a rica alegria da música gloriosa.
Aprendi a reconhecer toda e qualquer evidência da manifestação do Amor e a ser grata — pelas nuvens que passam céleres pelo céu azul do inverno, até às ternas sutilezas da música de Schumann. E deixei de me preocupar se era compreendida ou não. Eu sabia que Deus, minha origem, meu Pai-Mãe, meu amigo querido, me amava, me aceitava e me compreendia. Hoje, ao volver o olhar para aquela época tão dolorosa, valorizo profundamente o fato de o Amor ter exigido que eu aprendesse essa lição tão necessária. Sou grata pelo imenso bem que dela resultou.
Ao descobrir algo a respeito de sua verdadeira identidade como filho perfeito de Deus, o indivíduo constata que a solução para o sentimento de rejeição é sempre de natureza espiritual. Ciência e Saúde explica: "O Amor é imparcial e universal na sua adaptação e nas suas dádivas." Ibid., p. 13. E a capacidade de, em cada situação individual, se adaptar à maneira do Amor, reside na consciência de cada um de nós.
Cristo Jesus disse: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo." João 14:27. Ele sabia que nem o mundo nem o indivíduo de pendor mundano jamais poderiam dar a verdadeira paz. Essa pretensa paz que se baseia em exigências egotistas, tem, realmente, uma base instável. Mas a paz baseada no Cristo, a Verdade sempre disponível que Jesus veio nos mostrar, é a única paz mental segura que se pode conhecer. E essa paz não pode ser perturbada pelo que os outros fazem ou deixam de fazer. É a paz que vai de mãos dadas com a aceitação, pois brota das profundezas do amor que primeiro cura a si próprio e depois inclui a humanidade toda.
O homem não é um ego pequeno e separado entre muitos egos pequenos e separados, sujeito a todas as mágoas e danos emocionais que seriam decorrentes desse fato, se ele fosse verdadeiro. Não, o homem é bem maior do que isso. É a expressão sadia e integral de Deus, do único Eu Sou. Precisamos lembrar em oração essa verdade espiritual, todos os dias, todas as horas, de momento a momento.
A rejeição é desconhecida para Deus e assim também é desconhecida para você e para mim. Podemos começar conosco agora mesmo e aceitar o amor invariável e imutável de Deus. Isso dá estabilidade à nossa perspectiva. Dá-nos o equilíbrio espiritual de ser e de desfrutar o que realmente somos: o bem-amado de Deus.
