Enquanto estava na fila do supermercado, ouvi o seguinte diálogo:
Caixa: Não vai comprar um bilhete da loteria instantânea, hoje?
Cliente: Hoje não. Estou sem palpite.
Caixa: Vendi um bilhete premiado hoje. Uma senhora aposentada ganhou um dinheirinho. Ela disse que o dinheiro chegou na hora certa.
Cliente: Deus é bom.
Muitas pessoas, inclusive eu mesma, concordam que Deus é bom. Mas a ideía de que Deus nos ajuda por meio de um bilhete de loteria, de início me pareceu engraçada, depois me preocupou. As estatísticas comprovam que muitas pessoas confiam na sorte para atender a necessidades genuínas ou realizar o sonho de riqueza imediata. A Bíblia, no entanto, nos conclama a confiar em Deus e fala da lei do Senhor. Será que as leis da probabilidade fazem parte da Providência divina?
Ao aceitar a idéia de que Deus distribui benefícios materiais de maneira indiscriminada, estamos também acreditando num Deus que, de repente, pode tirar a vida de uma criança inocente, de um pai dedicado, ou de um incansável filantropo, por razões que vão além da compreensão humana. Ao concordar que Deus é responsável pela distribuição casual da sorte, aceitamos, mesmo que inconscientemente, a idéia de que a mão divina exerce influência sobre a probabilidade de acontecerem acidentes, para que grasse a fome e haja outras tragédias. Essa idéia, porém, traz ao pensamento a seguinte afirmação da Sra. Eddy: "Deus é o legislador, mas Ele não é o autor de códigos bárbaros." Ciência e Saúde, p. 381.
Lemos na Bíblia que Jesus visitou o tanque de Betesda em Jerusalém, e lá, em volta do tanque, havia muitas pessoas enfermas e paralíticas. Todas acreditavam que esporadicamente um "anjo" agitava a água, atribuindo-lhe o poder de curar o primeiro que nela se jogasse. Um homem, paralítico havia trinta e oito anos, despejou sobre Jesus sua história cheia de dissabores: sempre alguém entrava n'água antes dele, pois não tinha quem o ajudasse. A resposta de Jesus refutou a idéia de que precisamos competir para obter um benefício de origem misteriosa. Ele disse ao homem que se levantasse e andasse, curando-o instantaneamente. Jesus, porém, enfatizou a importância da regeneração moral, dizendo-lhe: "Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior." João 5:14.
É evidente que os ensinamentos de Jesus não nos encorajam a confiar na sorte para a obtenção de saúde e suprimento. Nossas necessidades serão atendidas, até de maneira inesperada, à proporção que nos esforçarmos para confiar na lei de Deus e compreendê-la, empenhando-nos em deixar que ela guie nossos pensamentos e ações.
Quando estava num curso de pós-graduação, houve um período em que tive dificuldades financeiras. Parecia impossível encontrar um emprego de meio período nas poucas horas livres de que dispunha. Eu sabia, no entanto, que havia uma necessidade mais profunda e fundamental, que ia além de um pouco mais de dinheiro no fim do mês. Orei para compreender Deus como a fonte do bem infinito. Entendi que Ele não é a fonte do suprimento material, mas a fonte da inteligência, da intuição e do amor, qualidades necessárias para identificar a solução espiritual deste caso e de outros também. Pelo raciocínio, concluí que minha verdadeira identidade espiritual, descrita na Bíblia como a imagem e semelhança de Deus, não podia sofrer nenhum tipo de carência.
Tive então a idéia de oferecer meu apartamento pequeno, mas bem localizado, a uma amiga que lecionava em outra universidade. Talvez ela quisesse usá-lo enquanto eu visitava meus familiares durante as férias. Ela agradeceu o convite, dizendo não poder aceitá-lo na ocasião. Perguntou-me, porém, se eu gostaria de dar aula em seu lugar durante minhas férias. (Que coincidência! Eu não havia me dado conta de que as duas universidades tinham anos acadêmicos diferentes.) Hospedagem não era problema, pois minha família morava na mesma cidade em que minha amiga lecionava. Fiquei muito grata por poder ser útil. Além do mais, o salário que recebi durante aquelas poucas semanas foi muito maior do que eu teria ganhado durante vários meses nos trabalhos de meio expediente que havia procurado anteriormente.
Esse fato nada teve a ver com "golpe de sorte" e os eventos que se sucederam comprovaram que a oração mudou meu pensamento. Deixei de me considerar uma pobre e sofredora estudante de pósgraduação. Praticamente sem esforço, encontrei um interessante trabalho de meio expediente, que além de oferecer horário flexível, pagava muito bem.
A Bíblia nos assegura: "Toda boa dádiva e todo dom perfeito é lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação, ou sombra de mudança." Tiago 1:17. A fonte de todo o bem não muda de posição como os planetas, nem muda da luz para as trevas. À medida que nos esforçamos por levar uma vida de moralidade coerente e passamos a compreender o universo de Deus como sendo espiritual e totalmente bom, a expressar Sua natureza, começamos a compreender a bondade imparcial e imutável da lei divina. Passamos, então, a ter gradativa evidência de que nossos recursos, nossa saúde e nossa felicidade não dependem da sorte.
