Há pouco tempo atrás, uma jovem senhora minha conhecida veio ter comigo com os olhos marejados de lágrimas, para dar-me notícias maravilhosas. Contou-me que, por meio da Ciência Cristã, tinha sido completamente curada do desejo de cometer suicídio. A gratidão profunda que ela sentia, era evidente.
Eu sabia quais eram os desafios pessoais com que tinha se defrontado. Aquilo que ela disse a seguir, foi quase tão emocionante quanto a notícia que me dera. Embora continuasse a debater-se com alguns desses mesmos desafios e problemas, agora sabia que pôr termo à vida, seria totalmente contraproducente. Estava aprendendo a lidar com as questões por meio da compreensão de Deus.
Sermos capazes de enfrentar nossos problemas, em vez de fugirmos deles, é sinal de força espiritual. Os problemas não desaparecem sem mais nem menos. Só nos tornamos mais fortes à medida que vamos percebendo que conseguimos dominar os problemas por meio do poder e da graça de Deus, a Vida divina.
Ao longo de todas as épocas, as pessoas têm se deparado com o conceito de que a morte poderia ser uma forma de escapar a circunstâncias difíceis. De certa forma, foi um consolo para mim, tomar conhecimento de que o grande profeta bíblico, Elias, Ver 1 Reis, cap. 19. tinha uma vez pedido a Deus que o deixasse morrer. Sempre me sentira culpado pelo fato de a idéia de cometer suicídio me ter ocorrido uma ou duas vezes durante a adolescência. Saber que Elias fora tentado, mas que conseguira vencer seu grande desespero, fez-me ver que tais pensamentos não são, afinal, tão poderosos. Também descobri que quando as coisas não estão a correr da melhor forma e nos sentimos deprimidos e desanimados, não há necessidade de aliar a isso um desejo de autodestruição.
Depois de fazer tudo o que podia para servir a Deus, Elias não conseguira livrar-se do sentimento de autocompaixão e desespero. É possível que tenha pensado que, apesar de ter desempenhado um trabalho muito nobre, os resultados eram por demais insignificantes. Ele dirigiu-se para o deserto e, uma vez lá, sentou-se debaixo de uma árvore. Foi então que, como a Bíblia nos diz, "pediu para si a morte, e disse: Basta; toma agora ó Senhor, a minha alma, pois não sou melhor do que meus pais." Em seu desalento, Elias estava pronto para desistir.
Mas Elias estava prestes a ter uma surpresa. Veio um anjo incitando-o a dirigir-se para Horebe, o monte onde Moisés tinha recebido os Dez Mandamentos. Lá, Deus disse a Elias: "Conservei em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que o não beijou." Elias aceitou o desafio de ajudar todos aqueles que quisessem conhecer melhor a Deus. Continuou durante muito tempo a servir a Deus com amor, cumprindo a missão de sua vida.
O suicídio não é a solução para os problemas. Apenas constitui mais uma questão a ser debelada, atrasando assim o bem que pode, efetivamente, ser vivido aqui e agora. Compreendermos que, de fato, a vida após a morte não é diferente do que era antes, ajuda-nos a perceber que os problemas precisam ser enfrentados no presente.
Com grande compaixão e realismo prático, Mary Baker Eddy escreve: "Se a mudança chamada morte destruísse a crença no pecado, na doença e na morte, a felicidade seria conseguida no momento da dissolução e duraria para sempre; mas não é assim. A perfeição só se consegue pela perfeição. Os que são injustos continuarão injustos, até que, na Ciência divina, o Cristo, a Verdade, elimine toda ignorância e todo pecado." Ciência e Saúde, p. 290.
Não provou Cristo Jesus que a morte era incapaz de o tornar um homem melhor? Mesmo após a crucificação e a permanência no sepulcro, seu corpo se manteve igual ao que era antes. Jesus mostrou que a vida se mantém inalterada, até que atinjamos a compreensão total de que a vida é espiritual e que o homem é realmente o filho de Deus muito amado, até que o Cristo eterno, ao revelar a presença de Deus, nos cure de todo medo e desespero.
A compreensão crística é baseada no fato de que Deus, a Vida, é auto-existente e indestrutível. Conseqüentemente, o homem, sendo o produto de Deus, nunca pode deixar de viver, nem pode aniquilar sua própria vida. Como a morte não existe na Vida divina, o homem está sempre vivendo. É a realidade eterna do ser. O homem está para sempre nas mãos firmes da Vida eterna. O homem de Deus não é capaz de cometer suicídio ou desistir da Vida, muito embora os mortais pensem o contrário.
O Mestre mostrou que não é através da morte que nossos pensamentos sobre nós mesmos e nosso corpo se tornam melhores. Quando, por exemplo, passamos de um quarto para o outro, continuamos vestidos com a mesma roupa e mantemos os mesmos pensamentos que tínhamos no quarto anterior. Impõe-se uma mudança radical, mudança essa que surge do humilde reconhecimento de Deus como criador e Autor do homem. Essa mudança pode dar-se aqui e agora. Não é, de modo algum, o resultado da morte.
Amar a Deus e a nós mesmos como filhos queridos de Deus, destrói a tendência para a tentativa de auto-aniquilamento. O Amor nunca é destruidor. Ninguém deseja destruir aquilo que realmente ama.
Que tipo de amor será esse, que faz desaparecer a tendência para o suicídio? Tratar-se-á apenas de amor humano? Ou será que é algo mais profundo?
Amar-nos a nós mesmos e aos outros pode ser muito enaltecedor e inspirativo. O afeto e a consideração humanos têm uma base espiritual sólida quando são baseados no amor perfeito que Deus nutre pelo homem e por toda a Sua criação. O amor pelos outros e por nós próprios, quando baseado no bem espiritual, é puro e eterno.
Compreender e expressar esse tipo de amor torna-se um antídoto contra o suicídio, uma vez que nos eleva acima do egocentrismo deprimente, que é tão mesmérico e escravizante.
Quando amamos a Deus, começamos naturalmente a amar-nos a nós mesmos, pois somos, efetivamente, a expressão de Deus. Amar a Deus e a nós próprios desse modo, faz com que tenhamos o desejo de viver com alegria, sem egoísmo e com confiança. O coração repleto do amor de Deus pelo homem e por toda a Sua criação é propenso a expressar esse amor, a viver esse amor e a enfrentar os desafios diários com esperança e realização.
